Para que serve a alma? Como justificar a crença no espírito diante da ciência? | Fantástica Cultural

Artigo Para que serve a alma? Como justificar a crença no espírito diante da ciência?

Para que serve a alma? Como justificar a crença no espírito diante da ciência?

Por Paulo Nunes ⋅ 1 jul. 2023
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Os animais teriam alma? Considerando a evolução das espécies, quando a alma humana surgiu? Qual sua função, frente aos fatos trazidos pelas neurociências?

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Sabe-se que em todas as culturas humanas pode-se encontrar a ideia de alma. A crença de que o ser humano divide-se em duas partes, o corpo físico e o espírito imaterial, parece ser mais prevalente do que o próprio conceito de deus ou deuses. Mas se a alma existe, qual a sua função? E mais importante: por que esta função é indetectável pela ciência?

Assim como todas as crenças de cunho espiritual que remontam aos primórdios da humanidade, a ideia de alma ocupava na imaginação humana o mesmo ambiente sobrenatural que deuses, os bons e os maus, bem como os castigos divinos como relâmpagos e secas, e seus favores, como uma boa lavra ou a vitória em uma batalha. Acreditava-se na alma assim como se acreditava que o sol era um deus, ou que as vísceras de um animal poderiam predizer o futuro, ou que todos os mortos (bons e maus) rumavam para o mesmo mundo subterrâneo, onde habitariam para sempre. Em suma, acreditava-se pela ignorância.

Hoje, a história é diferente. Embora algumas confissões religiosas continuem interpretando a Bíblia ou outros livros sagrados ao pé da letra, boa parte dos cristãos já entende os Testamentos como parcialmente metafóricos, e como produto de sua época, sujeitos a certas visões distorcidas ou preconceitos de seus autores.

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Assim, a tendência é que pessoas religiosas rejeitem cada vez mais as crenças absurdas da Antiguidade e de gerações anteriores, atendo-se às lições morais dos livros sagrados (como, por exemplo, seguir os princípios morais de Cristo). A cada dia que passa é mais difícil contestar evidências da evolução das espécies, da idade do universo, dentre tantos outros tópicos abordados na Bíblia, mas desmentidos por evidências. E o mesmo vale para outros textos sacros do mundo todo.

Deus, entretanto, está no cerne de quase todas as religiões (ou, em alguns casos, deuses). A crença em uma divindade será sempre um dos últimos pilares a sustentar a religiosidade: ao cair, a religião tende a desabar junto. Como ele, porém, outros elementos de fé ainda são prevalentes atualmente: a vida após a morte, a danação ou recompensa eterna, e a existência da alma.

Caso qualquer um destes últimos conceitos seja rejeitado pelos cristãos, o próprio núcleo do cristianismo seria destruído. É essencial para a fé cristã a ideia de alma, assim como a de que Cristo permitiu às almas irem para o céu, ao morrer pelos pecados dos homens.

Mas se pensarmos a alma para além de uma perspectiva religiosa, alguns problemas lógicos começam a surgir.

Se antigamente acreditava-se que a alma contém a mente do ser humano, hoje sabemos que isto não é verdade. Não existe dúvida, em neurociências, que a mente é um produto do cérebro.

  • As memórias são salvas nos neurônios. Tanto é assim que, em certos acidentes, uma pessoa perde suas memórias ao danificar parte específica do cérebro. O Alzheimer é fenômeno semelhante.
  • Nosso humor e personalidade são projetados pelo cérebro. Nossos sentimentos podem mudar a depender dos químicos em nosso corpo, desde os hormônios e outros químicos naturais até os medicamentos. A personalidade é em parte inata, genética, e em parte produto da interação do sujeito com o meio. Em qualquer caso, fenômenos mistificados como amor, paixão, felicidade, fé, assim como raiva, tristeza, ansiedade, medo, são não apenas detectáveis nas atividades do cérebro, mas inclusive passíveis de serem induzidos via estímulos artificiais.
  • Nossa inteligência é um reflexo das capacidades cerebrais. Danos cerebrais também podem reduzir a capacidade cognitiva das pessoas. E a depender da área atingida, diferentes funções podem ser atingidas: coordenação motora, habilidade de fala, reconhecimento de rostos, dentre outras.

cerebro

Assim, percebemos que a existência da alma não é requerida para explicar nossa capacidade de reter lembranças. Não é preciso cogitar sobre alma inclusive para explicar inteligência, personalidade, humor, sentimentos. Fica então a dúvida:

Para que serviria a alma, durante a vida de uma pessoa?

Fazia todo sentido acreditar na alma quando ainda se pensava que inteligência, consciência, lembranças e humores provinham dela. Mas hoje, como sabemos que este não é o caso, a única função atribuível à alma é a de perpetuar a vida após a morte (isto é, sua função é estritamente contida no debate religioso).

E em vista do que já se sabe em ciência, poderíamos também perguntar:

1. Os animais têm alma?

2. Se os animais têm alma, seriam estas julgadas por Deus? Caso não sejam, para onde elas iriam após a morte?

3. Caso os animais não tenham alma, em que momento da evolução humana a alma surgiu no homem? Teria havido um primeiro ser humano a possuir alma? Esta característica seria passada geneticamente aos novos seres humanos?

4. Se o surgimento da alma nos primatas que evoluíram para se tornarem humanos ocorreu via seleção natural, não seria plausível que, por algum tempo, humanos com alma e outros sem alma viveram ao mesmo tempo? Qual seria a diferença entre um ser humano com alma e um sem alma?

5. Se animais não possuem alma, mas podem ser inteligentes, emotivos, conscientes, o mesmo valeria para um ser humano sem alma. Então, se encontrássemos uma pessoa sem alma, seríamos capazes de notar esta diferença? Por quais características?

6. Se a alma existe, por que é indetectável por qualquer instrumento? Tudo que afeta algo é detectável, porque ao afetar algo, necessariamente existe um efeito a ser notado/medido. Mas se a alma existe sem ser mensurável, isso implica sua incapacidade de afetar a matéria. Se assim é, qual sua função durante a vida?

Estas são questões que qualquer um pode se fazer, independentemente de sua religiosidade (ou falta dela). Conclui-se que a evolução das espécies é a parte mais difícil de ser encaixada dentro da religião. Quanto à impossibilidade de detectar a alma, é sempre possível argumentar que se trata de um fenômeno sobrenatural que foge às leis da física (uma afirmação que não se pode provar nem desprovar via ciência). Mas ao tentarmos conciliar o surgimento da alma com a evolução das espécies, em especial a do ser humano, a tarefa revela-se bastante desafiadora para religiosos.

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Paulo Nunes

Escritor, editor, ilustrador e pesquisador



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