Há milênios, estranhas criaturas, reais ou imaginárias, povoam o céu, palmilham a terra e cruzam os mares, provocando terror e espanto naqueles que as veem. No decorrer dos séculos, alguns desses monstros, quase sempre os mais ferozes, acabaram se enraizando em lendas que hoje atestam a fertilidade da imaginação humana.
Por incrível que possa parecer, é ponto quase pacífico que tais criaturas baseavam-se vagamente em animais que existiam de fato, embora fossem conhecidos apenas através de relatos de viajantes e exploradores que regressavam de terras longínquas. O grifo, uma invenção medieval que habitaria um país muito distante, é uma combinação fantasiosa de leão e águia. Mais de um monstro fictício foi inspirado na serpente, animal há muito identificado com o mal, nas civilizações ocidentais. É quase certo que a serpente tenha sido a base para o dragão que solta fogo pelas ventas, ao qual foram acrescentadas asas de morcego e membros de lagarto. Para alguns estudiosos, é possível que a carcaça de animais extintos, como por exemplo de mamutes lanosos e ursos da caverna, tenha também inspirado a criação de tais monstros.
Mas, em resumo, tanto a origem precisa desses monstros míticos quanto o motivo para inventá-los continuam envoltos em mistério. Talvez fosse uma forma conveniente de representar as fantasias e os medos mais secretos da civilização, ou um meio de explicar fenômenos naturais para os quais não existiam causas óbvias. Ilustrações de alguns desses seres extraordinários da mitologia e da lenda aparecem nas próximas páginas.
#1
O Temido e Terrível Dragão
Os gregos antigos e a Bíblia introduziram os dragões alados no Ocidente, mas a imaginação da Europa medieval foi a que mais se encantou com esses monstros cuspidores de fogo, de pernas minúsculas. Segundo rezavam as lendas, essas criaturas aterrorizantes, de enormes chifres, pavorosas garras e hálito pestilento, eram capazes de manter o cerco a uma cidade e devorar suas virgens, até encontrarem a morte pelas mãos de um cavaleiro virtuoso, armado com uma espada mágica. A vitória de São Jorge, o herói mais famoso a salvar uma cidade e suas virgens, foi tida como uma alegoria do triunfo do cristianismo sobre os poderes das trevas.
Os dragões também figuram com abundância no folclore chinês, onde são relativamente benignos. Mas no Ocidente eram diabólicos; o apelido de Drácula atribuído ao príncipe Vlad Tepes, foi inspirado justamente na palavra em romeno para dragão e demônio. Consta que um dragão tinha poderes extraordinários até mesmo morto, uma gota de seu sangue provocaria morte instantânea e seus dentes, se fossem plantados na terra, brotariam da noite para o dia sob a forma de homens armados.
#2
Manticore — O Monstro de Cara Humana
O temível manticore, que segundo a lenda vagava pelas florestas da Índia, tinha corpo de leão, cara de homem e a cauda peçonhenta de um escorpião. Suas fabulosas mandíbulas, porém, eram ímpares, com três fileiras de dentes afiadíssimos, em cima e embaixo, que se encaixavam como os dentes de um pente quando o animal fechava a boca.
Aqueles dentes eram capazes de lacerar praticamente qualquer coisa e consta que o manticore gostava de carne humana. Mesmo à distância o monstro era perigoso. Com a cauda segmentada, podia disparar ferrões mortais que alcançavam até trinta metros.
#3
O Kraken das Ilusões
O kraken do folclore escandinavo era um monstro marinho imenso, a ponto de confundir os marinheiros mais desavisados, que ao distanciar-se muito da costa tomavam-no por um grupo de ilhas. Mas assim que os curiosos se aproximavam, as ilhas irrompiam numa massa de múltiplas cabeças, chifres e tentáculos ameaçadores, capazes de agarrar e afundar até o maior dos navios. Constava também que a tinta destilada pelo kraken pretejava e envenenava as águas; isto, somando-se aos tentáculos, mostra que a criatura buscava inspiração na bem real lula gigante.
#4
A Hidra de Muitas Cabeças
Frequentadora de pântanos e outros reinos aquáticos, a hidra era uma criatura grotesca, dona de pelo menos sete cabeças independentes, das quais a do centro era imortal, e de uma alarmante habilidade para criar outras. Para cada cabeça cortada pelo adversário, a hidra desenvolvia mais duas. Foi finalmente destruída por Hércules, que enterrou a cabeça imortal sob uma rocha e queimou as outras. A multiplicação das cabeças da hidra parece ter sido inspirada na bifurcação dos rios ou de qualquer corrente de água, pois qualquer tentativa de cortar o fluxo apenas o faz dividir-se em dois. O fato de a criatura de chamar hidra (água) corrobora esta hipótese.
#5
O Maligno Basilisco
De todos os monstros lendários, nunca houve outro mais perigoso que o basilisco. Parte serpente, parte galináceo, nascia de um ovo posto por um galo de sete anos durante a época em que Sírio estava no ponto mais alto do céu. O ovo era esférico e coberto por uma espessa membrana, chocado às vezes durante nove anos por um sapo. Gestação assim demorada produzia uma criatura cujo bafo era capaz de crestar a terra e cujo olhar era mortal, até para si mesmo. Por isso, quem saía à caça do basilisco devia levar um espelho.
#6
O Grifo Gigantesco
Metade leão e metade águia, o grifo era infinitamente mais fabuloso que qualquer desses animais. Tinha o corpo e a cauda de um leão, mas era oito vezes maior; tinha a cabeça e as asas de uma águia, mas era cem vezes mais forte. Acreditava-se que a bizarra criatura habitasse as montanhas, de onde investia para pegar suas presas; garras poderosas lhe permitiam voar de volta ao ninho levando cavalo e cavaleiro — constava que seu apetite por ambos era voraz — ou mesmo uma junta de bois na canga.
Algumas vezes os grifos eram usados para transportar os deuses; a carruagem de Nêmesis, a temida deusa de vingança dos gregos antigos, costumava ser puxada por grifos. Desnecessário dizer que aos humanos convinha evitar o animal a todo custo. Mas ele era tão poderoso que as partes de seu corpo eram cobiçadas como talismãs contra desgraças e males. Muito procuradas eram as garras, do tamanho de chifres de boi, que aparentemente escureciam ao menor contato com veneno. Durante a Idade Média, muita gente crédula comprou chifres de antílopes ou presas de mamutes extintos por garras de grifo.