João e Maria | Conto de Fadas Original dos Irmãos Grimm - Completo | Fantástica Cultural

Artigo João e Maria | Conto de Fadas Original dos Irmãos Grimm - Completo
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João e Maria | Conto de Fadas Original dos Irmãos Grimm - Completo

Autores Selecionados ⋅ 1 jun. 2023
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Um clássico sobre canibalismo para toda a família.

Versão completa do original Hänsel und Gretel
(João e Maria) traduzida, dos irmãos Grimm.

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Em frente a uma grande floresta morava um pobre lenhador com a mulher e dois filhinhos: João e Maria. Tinham pouco com que se alimentar e na cidade tudo estava caro, nem mesmo o pão de cada dia conseguiam mais comprar.

Numa dessas noites, o lenhador atormentado pelas preocupações não conseguia dormir e ficava se revirando inquieto na cama e, entre um suspiro e outro, perguntou à mulher, que era madrasta das crianças:

— Que será de nós? Como alimentaremos nossos filhinhos, se nada temos nem para nós?

— Escuta aqui, meu caro marido — respondeu ela —, amanhã cedo os levaremos para o meio da floresta. Lá acenderemos uma fogueira e lhes daremos um pedaço de pão para que se alimentem. Depois iremos para o nosso trabalho e os deixaremos lá sozinhos. Eles não conseguirão encontrar o caminho de casa e assim ficaremos livres deles.

— Não, mulher, não posso fazer isso. Se abandonar meus filhos sozinhos na floresta, não tardarão as feras a devorá-los, como poderei viver depois?

— És um tolo, isso sim. Teremos de morrer os quatro de fome e nada te resta se não aplainar as tábuas para os nossos caixões.

Contudo, não deu sossego ao pobre marido até ele concordar.

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— Mas as pobres crianças causam-me uma pena imensa! — repetia ele.

As crianças, de tanta fome, também não conseguiam dormir. Por isso, ouviram tudo o que a madrasta dizia ao pai. Chorando copiosamente, Maria disse ao irmão:

— Estamos perdidos!

— Não se preocupe — respondeu João —, não tenha medo, eu sei o que fazer.

Assim que os velhos adormeceram, João levantou-se bem de mansinho, vestiu o paletó, abriu a porta da frente e saiu. A lua resplandecia e as pedras branquinhas cintilavam diante da casa. O menino as apanhou e meteu nos bolsos quantas pôde. Depois voltou para casa e disse a Maria:

— Fique tranquila, querida irmãzinha, e dorme sossegada. Deus não nos abandonará.

E deitou-se novamente.

Ao amanhecer, antes ainda do sol raiar, a mulher acordou as crianças, dizendo:

— Levantem-se, seus preguiçosos. Vamos catar lenha na floresta. Deu um pedaço de pão a cada um e disse:

— Isto é para o almoço, mas não deveis comê-lo antes do meio-dia, se não nada mais tereis que comer depois.

Maria guardou o pão no avental pois João estava com os bolsos cheios de pedras. Em seguida, foram todos rumo à floresta. Tendo caminhado um certo trecho, João parou e voltou-se a olhar para a casa. Fez isso repetidas vezes, até que o pai, intrigado, lhe perguntou:

— Que tanto olhas, meu filho, e por que ficas sempre para trás? Vamos, apressa-te.

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— Ah, papai — disse o menino —, estou olhando para o meu gatinho branco que, de cima do telhado, está acenando para mim.

— Tolo, não é o teu gato — interveio a mulher. — Não vês que é o sol da manhã brilhando na chaminé?

Mas João não olhava para gato nenhum, era apenas um pretexto para, todas as vezes, deixar cair no caminho uma das pedrinhas brilhantes que trazia no bolso.

Quando, finalmente, chegaram ao meio da floresta, disse-lhes o pai:

— Juntemos um pouco de lenha, meninos, vou acender uma fogueira para que não fiquem com frio.

João e Maria juntaram uma boa quantidade de gravetos e ramos secos, com os quais acenderam a fogueira. Assim que as chamas se elevaram, disse-lhes a mulher:

— Deitai-vos junto ao fogo, meninos, enquanto nós vamos rachar lenha.

Quando terminarmos o nosso trabalho, viremos buscar-vos.

João e Maria sentaram-se perto do fogo e, ao meio-dia, cada qual comeu o seu pedaço de pão. Ouvindo os golpes do machado, julgaram que o pai estivesse ali por perto, mas não era o machado, era simplesmente um galho que ele havia amarrado a uma árvore seca e que batia sacudido pelo vento. Ficaram muito tempo sentados junto do fogo; depois, por conta do cansaço, adormeceram profundamente. Quando despertaram, já era noite avançada. Maria começou a chorar com medo.

— Como sairemos da floresta?

— Espera um pouco — disse-lhe João para consolá-la —, espera até surgir a lua, aí encontraremos o caminho.

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Não tardou, apareceu a lua resplandecente. João tomou a irmãzinha pela mão e juntos foram seguindo as pedrinhas, que brilhavam como moedas novas e lhes indicavam o caminho. Andaram a noite toda. Ao amanhecer, chegaram à casa do pai. Bateram à porta e, quando a mulher abriu, vendo os dois na sua frente, disse, muito zangada:

— Crianças preguiçosas, por que dormiram tanto na floresta? Até pensamos que não queriam mais voltar para casa.

O pai, ao contrário, alegrou-se ao vê-los, pois tinha remorso por tê-los abandonado lá sozinhos.

Assim passou certo tempo. Depois a miséria tornou a invadir a casa e, uma noite, quando estavam deitados, os meninos ouviram a madrasta dizer ao pai:

— Já comemos tudo o que havia em casa, só nos resta meio pão. É preciso levá-las embora. Desta vez, porém, para o fundo da floresta, para que não encontrem o caminho de volta. Não nos resta outra solução.

O homem sentiu o coração apertar e ia pensando: "Seria melhor dividir teu último pão com teus filhos", e relutava em concordar. A mulher, porém, não queria dar-lhe ouvido e censurava-o asperamente. Mas como havia cedido da primeira vez, viu-se forçado a ceder novamente.

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As crianças, que ainda estavam acordadas, ouviram toda a conversa. Assim que os velhos adormeceram, João levantou-se novamente para sair de mansinho, como da outra vez, para catar as pedrinhas lá fora, mas a madrasta havia trancado a porta. Entretanto, consolou a irmãzinha, dizendo-lhe:

— Não chores, Maria, dorme sossegada. O bom Deus vai nos ajudar.

Ao raiar do dia, na manhã seguinte, a madrasta tirou as crianças da cama. Cada um deles recebeu um pedaço de pão, ainda menor que da vez anterior. No caminho para a floresta, João esfarelou-o no bolso e, de quando em quando, parava a fim de, jeitosamente, deixar cair as migalhas.

— Que tanto olhas para trás, João, e por que te demoras? — perguntou o pai.

— Estou olhando para o meu pombinho que está a dizer-me adeus de cima do telhado.

— És um tolo — disse a mulher —, não vês então que não é o teu pombinho, mas sim o sol nascente, que brilha na chaminé?

Entretanto, o menino foi, pouco a pouco, marcando o caminho com as migalhas.

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Dessa vez a madrasta levou as crianças ainda mais para o interior da floresta, para um lugar onde jamais haviam estado. Acenderam, novamente, uma grande fogueira e ela disse-lhes:

— Ficai aqui, quietinhos, meninos. Quando estiverdes cansados, deitai-vos e dormi um pouco. Enquanto isso, nós iremos rachar lenha e, à tarde, ao terminar nosso trabalho, viremos buscar-vos.

Ao meio-dia, Maria repartiu seu pedaço de pão com o irmão. Depois adormeceram e anoiteceu, mas ninguém foi buscá-los. Acordaram quando a noite ia alta, e a menina começou a chorar. João consolou-a, dizendo:

— Espera até surgir a lua, aí então veremos as migalhas de pão que espalhei e por elas encontraremos o caminho de casa.

Quando surgiu a lua, levantaram-se, mas não encontraram mais nem uma só migalha. Os passarinhos, que andavam por toda parte, tinham comido todas. João então disse à Maria:

— Não tem importância, vamos encontrar o caminho de qualquer maneira. Não encontraram o caminho e andaram toda a noite e mais um dia inteiro sem conseguir sair da floresta. Estavam com uma fome tremenda, pois só tinham comido algumas amoras, e tão cansados que as pernas não se aguentavam mais. Então, deitaram-se debaixo de uma árvore e adormeceram.

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Na manhã do terceiro dia, retornaram a procurar o caminho, mas cada vez se embrenhavam mais pela floresta e, se ninguém os ajudasse, certamente acabariam morrendo de fome.

Ao meio-dia, avistaram um lindo passarinho, branco como a neve, pousado num galho. Cantava tão lindamente que os meninos pararam para ouvi-lo. Quando acabou de cantar, saiu voando, e as crianças foram atrás dele. Assim chegaram a uma casinha onde o passarinho pousou no telhado. Aproximaram-se e viram que a casinha era feita de pão de ló e coberta de chocolate, com janelinhas de açúcar.

— Oba! — exclamou o menino satisfeito. — Podemos fazer uma excelente refeição. Eu comerei um pedaço do telhado e tu, Maria, podes comer um pedaço da janela: é doce.

João subiu na ponta dos pés, estendeu as mãos e arrancou um pedaço de telhado para provar. Maria começou a lamber os vidros da janela. Então, de dentro da casa, saiu uma vozinha estridente:

Rapa, rapa, rapinha,
Quem rapa a minha casinha?

Os meninos responderam:

— O vento, sou eu,
O filho do céu.

E continuaram comendo, sem se perturbar. João, que achava o telhado delicioso, arrancou um belo pedaço e Maria arrancou um vidro inteiro, redondo. Sentou-se no chão e comeu-o deliciada.

Mas, de repente, abriu-se a porta e num passo trôpego saiu uma velha bem idosa, apoiada numa muleta. João e Maria assustaram-se de tal maneira que deixaram cair o que tinham nas mãos. A velhinha, porém, disse-lhes:

— Ah, meus queridos meninos, quem vos trouxe aqui? Entrai e ficai comigo, aqui nenhum mal vos acontecerá.

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Pegou-os pela mão e levou-os para dentro da casinha. Aí serviu-lhes uma deliciosa refeição, com leite e bolinhos, maçãs e nozes. Depois foram preparadas para eles duas lindas caminhas, muito limpas e alvas; João e Maria, muito cansados, deitaram-se, acreditando estar no céu.

A velha fingia ser muito boa, mas na verdade era uma bruxa muito má, que atraía as crianças, por isso construiu a casinha de pão de ló. E, quando caía alguma criança em suas mãos, ela matava-a, cozinhava-a e comia-a, e esse era um dia de festa.

As bruxas, geralmente, não enxergam bem e têm os olhos vermelhos, mas são dotadas de um olfato muito agudo, como os animais, o que lhes permite sentir o cheio de uma criança de longe. Portanto, quando João e Maria se aproximaram da casa, ela riu, dizendo com os seus botões: "Estes caíram em meu poder, não me escaparão mais."

Pela manhã, bem cedinho, antes que os meninos acordassem, levantou-se e foi espiá-los. Vendo-os bochechudos e coradinhos, a dormir como dois anjinhos, murmurou: "Que petisco delicioso vou ter!" E agarrando João, levou-o para um chiqueirinho, trancando-o dentro das grades de ferro. De nada lhe adiantou gritar e espernear.

Depois foi ter com Maria. Sacudiu a menina e gritou:

— Levanta-te, preguiçosa! Vai buscar água e prepara uma boa comidinha para teu irmão, que está preso no chiqueirinho e deve engordar. Pois, assim que estiver bem gordinho, quero comê-lo.

Maria começou a chorar copiosamente, mas seu pranto foi inútil e teve mesmo de fazer o que lhe ordenava a perversa bruxa.

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Maria, então, preparava as refeições mais requintadas para o irmão, enquanto ela ficava só com as sobras. Cada manhã a velha ia até junto da grade e dizia:

— João, mostra-me teu dedinho, quero ver se está gordinho!

João, porém, mostrava-lhe sempre um ossinho e a velha, que não enxergava nem um palmo diante do nariz, julgava que fosse o dedo do menino e ficava muito admirada por ele nunca engordar. Passadas quatro semanas, visto que João continuava sempre magro, perdeu a paciência e resolveu não esperar mais.

— Vamos, Maria — ordenou —, traz água depressa. Gordo ou magro não importa, o matarei assim mesmo e amanhã o comerei.

Como chorou a pobre irmã ao ter de trazer a água! Como lhe corriam rios de lágrimas pelo rosto!

— Ah, Deus bondoso, ajuda-nos! — implorava ela. — Antes nos tivessem devorado as feras no meio da floresta! Pelo menos teríamos morrido juntos!

— Deixa de lamentações — gritou-lhe a velha —, elas de nada adiantam.

Pela manhã, bem cedinho, Maria teve de ir buscar água, encher o caldeirão e acender o fogo.

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— Primeiro vamos assar o pão, já preparei a massa — disse a bruxa — e já acendi o forno.

Empurrou a pobre Maria para perto do forno do qual saíram grandes labaredas.

— Entra lá dentro — disse a velha — e vê se já está bem quente para poder assar o pão.

Assim, pensava a bruxa, quando Maria entrasse lá dentro, fecharia a boca do forno e a deixaria assar para comê-la também. A menina, porém, adivinhando sua intenção, disse:

— Eu não sei como se faz! Como é que se entra?

— Tonta, estúpida — disse a velha —, a abertura é bastante grande, olha, até eu poderia entrar!

Assim dizendo, abeirou-se da boca do forno, aproximando a cabeça. Maria, então, com um forte empurrão a fez entrar no forno e fechou rapidamente a porta de ferro com o cadeado. Uh! Que berros horríveis soltava a bruxa! Maria, porém, saiu correndo e a velha acabou morrendo, miseravelmente queimada.

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Chegando ao galinheiro, a menina abriu a portinhola, dizendo ao irmão:

— João, corre, estamos livres. A velha bruxa morreu.

João então saiu pulando, alegre como um passarinho, ao lhe abrirem a gaiola. Com que felicidade se abraçaram e se beijaram, rindo e dançando! Como nada mais tinham a temer, percorreram a casinha da bruxa e viram espalhadas pelos cantos grandes arcas cheias de pérolas e pedras preciosas.

— Estas são bem melhores do que as pedrinhas lá de casa! — disse João, enquanto ia enchendo os bolsos até não poder mais.

— Eu também vou levar! — disse Maria, e foi enchendo o avental.

— Agora vamo-nos embora daqui — disse o irmão —, temos que sair da floresta da bruxa.

Após terem andado durante algumas horas, chegaram à margem de um rio muito largo.

— Não vamos conseguir atravessá-lo — disse João —, não vejo nem uma ponte.

— Nem mesmo um barquinho — disse a irmã —, mas olha, aí vem uma pata. Se lhe pedirmos, ela certamente nos ajudará a atravessar:

— Patinha, patinha,
Aqui estão João e Maria,
Não podemos passar,
Queres nos levar?

A pata se aproximou da margem e João sentou nas suas costas, dizendo à irmã que também sentasse, bem juntinho dele. Mas Maria respondeu:

— Vai ficar muito pesado. É melhor que ela nos leve um de cada vez. Assim fez a boa patinha. E quando felizmente chegaram ao outro lado, depois de caminharem bastante, a floresta foi-se tornando mais familiar até que finalmente viram a casa do pai. Correram em sua direção e, lá dentro, o abraçaram e o cobriram de beijos.

O pobre homem nunca mais tivera uma hora feliz desde que abandonara as crianças no meio da floresta. A mulher (para felicidade de todos) havia morrido. Então Maria sacudiu o avental, deixando rolar pelo chão as pedras preciosas. João acrescentou todo o conteúdo de seus bolsos.

Desde então, acabaram-se todos os sofrimentos e preocupações, e os três viveram felizes pelo resto da vida.

"Minha história acabou, um rato passou, quem o pegar poderá sua pele aproveitar."

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