Este conto é parte do livro A Legião Estrangeira.
Anjos invisíveis: Eis-nos quase aqui, vindos pelo longo caminho que existe antes de vós. Mas não estamos cansados, tal estrada não exige força e, se vigor reclamasse, nem o de vossa prece nos ergueria. Só uma vertigem é o que faz rodopiar aos gritos com as folhas até a abertura de um nascimento. Basta uma vertigem, que sabemos? Se homens hesitam sobre homens, anjos ignoram sobre anjos, o mundo é grande e abençoado seja o que é. Não estamos cansados, Você também pode gostar: Leia na Fantástica os Melhores Contos de Clarice Lispector nossos pés jamais foram lavados. Grasnando a esta próxima diversão, viemos sofrer o que tem que ser sofrido, nós que ainda não fomos tocados, nós que ainda não somos menino e menina. Eis-nos nas malhas da tragédia verdadeira, da qual extrairemos a nossa forma primeira. Quando abrirmos os olhos para sermos os nascidos, de nada nos lembraremos: crianças balbuciantes seremos e vossas mesmas armas empunharemos. Cegos no caminho que antecede passos, cegos prosseguiremos quando de olhos já vendo nascermos. Também ignoramos a que viemos. Basta-nos a convicção de que aquilo a ser feito será feito: queda de anjo é direção. Nosso verdadeiro começo é anterior ao visível começo, e nosso verdadeiro fim será posterior ao fim visível. A harmonia, a terrível harmonia, é o nosso único destino prévio.
Sacerdote: No amor pelo Senhor não me perdi, sempre seguro no Teu dia como na Tua noite. E esta simples mulher por tão pouco se perdeu, e perdeu a sua natureza, e ei-la a nada mais possuir e, agora pura, o que lhe resta ainda queimarão. Os estranhos caminhos. Ela consumiu sua fatalidade num só pecado em que se deu toda, e ei-la no limiar de ser salva. Cada humilde via é via: o pecado grosseiro é via, a ignorância dos mandamentos é via, a concupiscência é via. Só não era via a minha prematura alegria de percorrer como guia e tão facilmente a sacra via. Só não era via a minha presunção de ser salvo a meio do caminho. Senhor, dai-me a graça de pecar. É pesada a falta de tentação em que me deixaste. Onde estão a água e o fogo pelos quais nunca passei? Senhor, dai-me a graça de pecar. Esta vela que fui, acesa em Teu nome, esteve sempre acesa na luz e nada vi. Mas, ah esperança que me abrirá as portas de Teu violento céu: agora percebo que, se de mim não fizeste o facho que arderá, pelo menos fizeste aquele que ateia o fogo. Ah esperança, na qual ainda vejo meu orgulho de ser eleito: em culpa bato no peito, e com alegria que eu desejaria mortificada digo: o Senhor apontou-me para pecar mais que aquela que pecou, e afinal consumirei minha tragédia. Pois foi de minha palavra irada que Te serviste para que eu cumprisse, mais do que o pecado, o pecado de castigar o pecado. Para que tão baixo eu desça de minha perigosa paz que a escuridão total — onde não existem candelabros nem púrpura papal e nem mesmo o símbolo da Cruz —, a escuridão total sejas Tu. "As trevas não te cegarão", foi dito nos Salmos.
Povo: Há dias temos fome e aqui estamos a buscar alimento.
Entram pecadora e dois guardas.
Sacerdote: "Ela fez suas delícias da escravidão dos sentidos", pelo sinal da Santa Cruz.
Povo: Ei-la, ei-la e ei-la.
Criança com sono: Ei-la.
Mulher do povo: Ei-la, a que errou, a que para pecar de dois homens e de um sacerdote e de um povo precisou.
1º guarda: Somos os guardas de nossa pátria. Sufocamos em abafada paz, e da última guerra já esquecemos até os clarins. Nosso amado rei nos espalha em postos de extrema confiança, mas na vigília inútil de nossa virilidade quase adormecemos. Feitos para gloriosamente morrer, eis que envergonhadamente vivemos.
2º guarda: Somos um guarda de um Senhor, cujo domínio nos parece bem confuso: ora se estende até onde vão as fronteiras marcadas por costume e uso, e nossas lanças então se erguem ao grito da fanfarra. Ora tal domínio penetra em terras onde existe lei bem anterior. Pois eis-nos desta vez a guardar o que por si mesmo será sempre guardado, pelo povo e pelo fado. Sob este céu de asfixiada tranquilidade, pode faltar o pão, mas nunca faltará o mistério da realização. Pois que estamos nós fantasticamente a velar? Senão o destino de um coração.
1º guarda: Como vossas últimas palavras lembram o saudoso reboar de um canhão. Que desejo de enfim vigiar um mundo menor, onde seja nossa lança a ferir de morte o que vai morrer. Mas cá estamos a guardar uma mulher que a bem dizer por si mesma já foi incendiada.
Anjos invisíveis: Incendiada pela harmonia, a sangrenta suave harmonia, que é o nosso destino prévio.
Entra o esposo.
Povo: Eis o marido, aquele que foi traído.
Esposo: Ei-la, a que será queimada pela minha cólera. Quem falou através de mim que me deu tal fatal poder? Fui eu aquele que incitou a palavra do sacerdote e juntou a tropa deste povo e despertou a lança dos guardas, e deu a este pátio tal ar de glória que abate os seus muros. Ah, esposa ainda amada, desta invasão eu queria estar livre. Sonhava estar só contigo e recordar-te nossa alegria passada. Deixai-a só comigo, pois desde ontem vivo e não vivo, deixai-a só comigo. Diante de vós — estrangeiros à minha felicidade anterior e à minha desdita de agora — não consigo mais ver nesta mulher aquela que foi e não foi minha, nem na nossa festa passada aquela que era e não era nossa, nem consigo sentir a amargura que esta é minha e só minha. Que sucede a este meu coração que não reconhece mais o filho de sua Vingança? Ah, remorso: eu deveria ter vibrado o punhal com minha própria mão, e saberia então que, se fora eu o traído era eu mesmo o vingado.
Mas esta cena não é mais de meu mundo, e esta mulher, que recebi na modéstia, eu perco ao som de trombetas. Deixai-me só com a pecadora. Quero recuperar meu antigo amor, e depois encher-me de ódio, e depois eu mesmo assassiná-la, e depois adorá-la de novo, e depois jamais esquecê-la, deixai-me só com a pecadora. Quero possuir a minha desgraça e a minha vingança e a minha perda, e vós todos impedis que seja eu o senhor deste incêndio, deixai-me só com a pecadora.
Sacerdote: Há quantos anos não nascia um santo. Há quantos anos uma criança não profetizava no berço.
Há quantos anos o cego não via, o leproso não se curava, ah, que árido tempo. Estamos sob o peso de tal mistério a se revelar que no primeiro a quem se apontar, num raio, Teu esperado milagre há de se consumar.
1º guarda: Cada um diz e ninguém ouve.
2º guarda: Cada um está só com a culpada.
Entra o amante.
1º guarda: A comédia está completa: eis o amante, estou radiante.
Povo: Eis o amante, eis o amante e eis o amante.
Criança com sono: Eis o amante.
Amante: Ironia que não me faz rir: chamar de amante aquele que de amor ardeu, chamar de amante aquele que o perdeu. Não o amante, mas o amante traído.
Povo: Não compreendemos, não compreendemos e não compreendemos.
Amante: Pois esta mulher que nos meus braços a seu esposo enganava, nos braços do esposo enganava aquele que o enganava.
Povo: Pois então escondia do esposo o seu amante, e do amante escondia o esposo? Eis o pecado do pecado.
Amante: Mas eu não rio e por um momento não sofro. Abro os olhos até agora fechados pela jactância, e vos pergunto: quem? Quem é esta estrangeira, quem é esta solitária a quem não bastou um coração.
Esposo: É aquela para quem das viagens eu trazia brocado e preciosa pedraria, e por quem todo o meu comércio de valor se tornara um comércio de amor.
Amante: Pois na sua límpida alegria ela me vinha tão singular que jamais eu a suporia vinda de um lar.
Esposo: Não houve joia que ela não cobiçasse, e com ela a nudez do colo não abafasse. Nada existiu que eu não lhe desse, pois para um viajante humilde e fatigado a paz está na sua mulher.
Sacerdote: "Os inimigos do homem estão na sua própria casa."
Esposo: Mas na transparência de um brilhante ela já perscrutava a vinda de um amante. Quem vos diz é quem experimentou a peçonha: acautelai-vos de uma mulher que sonha.
Amante: Ah, desdita, pois se também junto a mim ela sonhava. O que então mais desejava? Quem é esta estrangeira?
Sacerdote: É aquela a quem nos dias santos dei inutilmente palavras de Virtude que poderiam sua nudez cobrir com mil mantos.
Mulher do povo: Todas estas palavras têm estranhos sentidos. Quem é esta que pecou e mais parece receber louvor ao pecado?
Amante: É aquela irrevelada que só a dor aos meus olhos revelou. Pela primeira vez, amo. Eu te amo.
Esposo: É aquela a quem o pecado tardiamente me anunciou. Pela primeira vez eu te amo, e não à minha paz.
Povo: É aquela que na verdade a ninguém se deu, e agora é toda nossa.
Anjos invisíveis: Pois é terrível a harmonia.
Povo: Não compreendemos, não compreendemos e etc.
Anjos invisíveis: Mesmo aquém da orla do mundo nós mal entendemos, quanto mais vós, os famintos, e vós, os saciados. Que vos baste a sentença geradora: o que tem de ser feito será feito, este é o único princípio perfeito.
Povo: Não compreendemos, temos fome e temos fome.
1º guarda: Esta gente fatigante, se for chamada a festa ou enterro, é possível que cante...
Povo: ... Temos fome.
2º guarda: Armam sempre a mesma emboscada que consiste numa só entoada...
Povo: ... Temos fome.
Sacerdote: Não interrompais com vossa fome, antes sossegai, pois vosso será o Reino dos Céus.
Povo: Onde comeremos, comeremos e comeremos, e tão gordos ficaremos que pelo buraco de uma agulha enfim e enfim não passaremos.
Sacerdote: Que veio fazer este povo? E a que vieram o esposo, o amante, os guardas? Pois sozinha comigo, e esta mulher seria incendiada.
Amante: Que veio fazer esta gente? Sozinha comigo, ela amaria de novo, de novo pecaria, arrepender-se-ia de novo — e assim num só instante o Amor de novo se realizaria, aquele em que em si próprio traz o seu punhal e fim. Eu te lembraria dos recados ao cair da noite... O cavalo impaciente aguardava, a lanterna no pátio... E depois... Ah, terra, teus campos ao amanhecer, certa janela que já começava no escuro a madrugar. E o vinho que de alegria eu depois bebia, até com lágrimas de bêbado me turvar. (Ah então é verdade que mesmo na felicidade eu já procurava nas lágrimas o gosto prévio da desgraça experimentar.)
Anjos invisíveis: O gosto prévio da terrível harmonia.
Criança com sono: Ela está sorrindo.
Povo: Está sorrindo, está sorrindo e está sorrindo.
Esposo: E seus olhos brilham úmidos como numa glória...
Mulher do povo: Afinal que sucede que esta mulher a ser queimada já se torna a sua própria história?
Povo: A que sorri esta mulher?
Sacerdote: Talvez pense que, sozinha, e já seria incendiada.
Povo: A que sorri esta mulher?
1º e 2º guardas: Ao pecado.
Anjos invisíveis: À harmonia, harmonia, harmonia que não tarda.
Amante: Sorris inacessível, e a primeira cólera me possui. Lembra-te que na alcova onde te conheci era outro o teu sorriso, e o brilho de teus olhos, as tuas únicas lágrimas. Por que estranha graça o pecado abjeto transfigurou-te nesta mulher que sorri cheia de silêncio?
Esposo: Ira impotente: ei-la sorrindo, de mim ainda mais ausente do que quando era de um outro. Por que ouviu-me este povo tão mais do que minhas palavras queriam ser ouvidas? Ah, mecanismo cruel que desencadeei com meus lamentos de ferido. Pois eis que a tornei inatingível mesmo antes dela morrer. O incitamento ao incêndio foi meu, mas não será minha vitória: esta pertence agora ao povo, ao sacerdote, aos guardas. Pois vós, infelizes, esconder não podeis que é de meu infortúnio que enfim vivereis.
Amante: Sorris porque me usaste para ainda viva seres pelo fogo ardida.
Esposo: Ouve-me ainda uma vez, mulher... (Como é estranho, talvez ela ouvisse, mas sou eu que não encontro mais as antigas palavras. Dúvida que já não tem fronteiras: quando é que fui eu e quando é que não o fui? Era eu quem a amava, mas quem é este a ser vingado? Aquele que em mim até agora falava, calou-se logo que atingiu os seus desígnios. Que sucede que não reconheço a antiga face de meu amor? Talvez ela me ouvisse, mas falar para mim terminou.)
Anjos invisíveis: Retira as mãos do rosto, esposo. Aquele que foste já cessou, o abrir-se da cortina revelou: que és a ínfima, ínfima, ínfima roda da terrível, terrível harmonia.
Amante: Pensei que vivera, mas era ela quem me vivia. Fui vivido.
Esposo: Como te reconhecer, se sorris toda santificada? Estes braços castos não são os braços que enganosos me abraçavam. E estes cabelos serão os mesmos que eu desatava? Interrompei-vos, quem vos diz é o mesmo que vos incitou. Pois vejo um erro e vejo um crime, uma confusão monstruosa: ei-la que pecou com um corpo, e incendeiam outro.
Sacerdote: Mas "Senhor, sois sempre o mesmo".
1º guarda: Todos lamentam o que já é tarde para lamentar, e discordam por discordar, quando bem sabem que aqui vieram para matar.
2º guarda: Eis enfim chegado o momento que nos dará o sabor da guerra.
Sacerdote: Eis chegado o momento em que, pela graça do Senhor, pecarei com a pecadora, arderei com a pecadora, e nos infernos onde com ela descerei, pelo Teu nome me salvarei.
Anjos invisíveis: Eis chegado o momento. Já sentimos uma dificuldade de aurora. Estamos no limiar de nossa primeira forma. Deve ser bom nascer.
Povo: Que fale a que vai morrer.
Sacerdote: Deixai-a. Temo dessa mulher que é nossa uma palavra que seja dela.
Povo: Que fale a que vai morrer.
Amante: Deixai-a. Não vedes que está tão sozinha.
Povo: Que fale, que fale e que fale.
Anjos invisíveis: Que não fale... Que não fale... Já mal precisamos dela.
Povo: Que fale, que fale e que etc.
Sacerdote: Tomai-lhe a morte como palavra.
Povo: Não compreendemos, não compreendemos e não compreendemos.
1º e 2º guardas: Afastai-vos, pois o fogo pode se alastrar e através de vossas vestes toda a cidade incendiar.
Povo: Este fogo já era nosso, e a cidade inteira queima.
1º e 2º guardas: Eis o primeiro clarão. Viva o nosso Rei.
Povo: Marcada pela Salamandra.
1º e 2º guardas: Marcada pela Salamandra...
Anjos invisíveis: Marcada pela Salamandra...
1º e 2º guardas: Vede a grande luz. Viva o nosso Rei.
Povo: Pois então hurra, hurra e hurra.
Anjos invisíveis: Ah...
Sacerdote: Ave-maria, até onde descerei?, "se bem que nada tenha a me censurar, isto não basta para me justificar", "Senhor liberai-me de minha necessidade", orai, orai...
Anjos invisíveis: ... Estremecei, estremecei, uma praga de anjos já escurece o horizonte...
Amante: Ai de mim que não sou queimado. Estou sob o signo do mesmo fado mas minha tragédia não arderá jamais.
Anjos nascendo: Como é bom nascer. Olha que doce terra, que suave e perfeita harmonia... Daquilo que se cumpre nós nascemos. Nas esferas onde pousávamos era fácil não viver e ser a sombra livre de uma criança.
Mas nesta terra onde há mar e espumas, e fogo e fumaça, existe uma lei que é antes da lei e ainda antes da lei, e que dá forma à forma, à forma. Como era fácil ser um anjo. Mas nesta noite de fogo que desejo furioso, perturbado e vergonhoso de ser menino e menina.
Esposo: Ela pecou com um corpo e incendeiam outro. Fui ferido numa alma, e eis-me vingado noutra.
Povo: Que bela cor de trigo tem a carne queimada.
Sacerdote: Mas nem a cor é mais dela. É a de Chama. Ah como arde a purificação. Enfim sofro.
Povo: Não compreendemos, não compreendemos e temos fome de carne assada.
Esposo: Com meu manto eu ainda poderia abafar o fogo de tuas vestes!
Amante: Nem a sua morte ele compreende, aquele que partilhou comigo aquela que não foi de ninguém.
Sacerdote: Como sofro. Mas "ainda não resiste até o sangue".
Esposo: Se com o meu manto eu apagasse as tuas vestes...
Amante: Poderias, sim. Mas compreende: teria ele a força de espalhar em longa vida o puro fogo de um instante?
Sacerdote: Ei-la, a que se tornará cinza e pó. Ah, "sois verdadeiramente um Deus oculto".
1º guarda: Eu vos digo, arde mais depressa que um pagão.
Sacerdote: "O mundo passa e sua concupiscência com ele."
2º guarda: Eu vos digo, é tanta a fumaça que mal vejo o corpo.
Esposo: Mal vejo o corpo do que fui.
Sacerdote: Louvado o Nome do Senhor, "Vossa graça me basta", "aconselho-te para te enriqueceres comprar de mim ouro experimentado pelo fogo", foi dito no Apocalipse, louvado seja o nome do Senhor.
Povo: Pois amém, amém, e amém.
Sacerdote: "Ela fez suas delícias da escravidão dos sentidos."
Esposo: Não passava de uma mulher vulgar, vulgar, vulgar.
Amante: Ah ela era tão doce e vulgar. Eras tão minha e vulgar.
Sacerdote: Eu sofro.
Amante: Para mim e para ela começou o que há de ser para sempre.
Os anjos nascidos: Bom-dia!
Sacerdote: "Esperando que o dia da eterna claridade se erga e que as sombras dos símbolos se dissipem."
1º e 2º guardas: Todos falam e ninguém ouve.
Sacerdote: É uma confusão melodiosa: já ouço os anjos dos que morrem.
Os anjos nascidos: Bom-dia, bom-dia e bom-dia. E já não compreendemos, não compreendemos e não compreendemos.
Esposo: Maldita sejas, se pensas que de mim te livraste e que de ti eu me livrei. Sob o peso de atração brutal, não sairás de minha órbita e eu não sairei da tua, e com náusea giraremos, até que ultrapassarás a minha órbita e eu ultrapassarei a tua, e num ódio sobre-humano seremos um só.
Sacerdote: A beleza de uma noite sem paixão. Que abundância, que consolação. "Ele fez grandes e incompreensíveis obras."
1º e 2º guardas: Exatamente como na guerra, queimando o mal, não é o bem que fica...
Os anjos nascidos: ... nós nascemos.
Povo: Não compreendemos e não compreendemos.
Esposo: Regressarei agora à casa da morta. Pois lá está minha antiga esposa a esperar-me nos seus colares vazios.
Sacerdote: O silêncio de uma noite sem pecado... Que claridade, que harmonia.
Criança com sono: Mãe, que foi que aconteceu?
Os anjos nascidos: Mamãe, que foi que aconteceu?
Mulheres do povo: Meus filhos, foi assim: etc. etc. e etc.
Personagem do povo: Perdoai-os, eles acreditam na fatalidade e por isso são fatais.