Como a Educação nos torna Burros - segundo Arthur Schopenhauer | Fantástica Cultural

Artigo Como a Educação nos torna Burros - segundo Arthur Schopenhauer

Como a Educação nos torna Burros - segundo Arthur Schopenhauer

Autores Selecionados ⋅ 1 jun. 2023
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Os professores ocupam-se enchendo a cabeça dos alunos de ideias, em vez de ensiná-los a pensar por si mesmos.

Matéria original de Weltgeist

Às crianças deve-se evitar qualquer tipo de instrução que possibilite erros até a idade de dezesseis anos, ou seja, a filosofia, a religião ou visões gerais de qualquer natureza; porque são os erros adquiridos no início da vida que, via de regra, são inerradicáveis, e porque a faculdade de julgar é a última a chegar à maturidade.

— Arthur Schopenhauer

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Em seu estado natural, os seres humanos formam ideias com base em suas observações do mundo. A experiência vem antes do aprendizado. É assim que os humanos conseguem entender o mundo ao seu redor. Quando as ideias são geradas dessa maneira, há uma ligação óbvia entre uma observação e a conclusão que dela se segue.

A educação tradicional, no entanto, inverte essa dinâmica.

Na educação tradicional, ou artificial, como a chama Schopenhauer, a ideia precede a experiência:

... educação artificial é ter a cabeça abarrotada de ideias, derivadas de ouvir os outros falarem, de estudar e ler, antes que o indivíduo tenha adquirido um conhecimento amplo sobre o mundo como ele realmente é e da forma como ele a vê

— Arthur Schopenhauer

Quando você adquire conhecimento antes de ter a experiência necessária, você aplicará essas ideias de maneira errada assim que sair da sala de aula para o mundo real.

E assim é que a educação perverte a mente; e é por isso que, depois de um longo período de aprendizado e leitura, entramos no mundo, em nossa juventude, com visões que são em parte simples, em parte distorcidas. ...

Isso ocorre porque nossa cabeça está cheia de ideias que agora estamos tentando usar, mas quase sempre aplicamos de maneira errada.

— Arthur Schopenhauer

Os professores ocupam-se enchendo a cabeça dos alunos de ideias, em vez de ensiná-los a pensar em primeiro lugar. As crianças crescerão com uma visão de mundo baseada em boatos e opiniões, e raramente estarão preparadas para lidar com o mundo real.

As crianças vivem submersas em um aparato predefinido de opiniões e preconceitos, e se o mundo real entrar em conflito com essa teia de ideias (o que irá acontecer inevitavelmente à medida que as crianças crescem), elas não mudarão de opinião, mas atacarão o mundo em vez disso.

Embora se valendo de um termo diferente, Schopenhauer está descrevendo aqui o que hoje chamaríamos de dissonância cognitiva.

Este indivíduo nunca tentou abstrair ideias fundamentais derivadas de suas próprias observações e experiências, porque já obteve tudo de outras pessoas; e é exatamente por isso que ele e inúmeros outros são tão insípidos e superficiais.

— Arthur Schopenhauer

E mesmo que as ideias aprendidas pelo indivíduo estejam objetivamente corretas, estas pessoas não sabem por que suas ideias estão corretas.

Uma parte importante da educação ideal, de acordo com Schopenhauer, é garantir que as crianças entendam o significado das palavras:

... deve-se tomar cuidado para que as crianças não usem palavras sem compreender claramente seu significado. Até as crianças têm, via de regra, aquela infeliz tendência de se contentar com palavras em vez de querer entender as coisas, e de aprender as palavras de cor, para que possam usá-las quando estiverem em dificuldade. Essa tendência fica enraizada nestes indivíduos, de modo que o conhecimento de muitos homens eruditos se torna mera verbosidade.

— Arthur Schopenhauer

Isso se encaixa perfeitamente no argumento principal de Schopenhauer, de que a educação deve procurar colocar a observação antes das ideias e, assim, refletir a maneira natural pela qual os humanos aprendem as coisas.

No entanto, Schopenhauer também observa que, durante a juventude, nossas faculdades de julgamento ainda não estão totalmente desenvolvidas. É por isso que ele propõe que nos primeiros anos de educação de uma criança não haverá nenhuma disciplina que se enquadre na categoria do que hoje chamamos de humanidades. Assim, não há espaço para filosofia, religião ou questões de opinião. Até os 16 anos, segundo Schopenhauer, uma criança deve aprender apenas as disciplinas em que os erros são sempre objetivos — por exemplo, matemática ou línguas. Schopenhauer também menciona a história, mas apenas o tipo de história que se preocupa com a memorização, como lembrar datas.

Um benefício adicional dessa abordagem, diz Schopenhauer, é que nossa memória é mais potente durante a juventude, e aquelas coisas que memorizamos quando somos jovens muitas vezes lembraremos por toda a vida. Portanto, é de grande importância que esses anos juvenis sejam usados para permitir que as crianças absorvam o máximo possível de informações de qualidade.

Portanto, em vez de nos apressarmos em simplemente colocar livros nas mãos das crianças, deve-se familiarizá-las gradualmente com as coisas e as circunstâncias da vida humana e, acima de tudo, deve-se cuidar em guiá-las para uma compreensão clara da realidade e ensiná-las a obter suas ideias diretamente do mundo real, formando-as de acordo com a realidade — em vez de obtê-las de outra fonte, como livros, fábulas ou escutando o que os outros dizem.

— Arthur Schopenhauer

Aqueles que aprenderam tudo nos livros, e não no mundo real, carecem de bom senso. Dessa forma, até mesmo o bom senso é destruído pela educação tradicional.

É por isso que tão poucos eruditos têm um bom senso tão sólido quanto o que é comum entre os analfabetos.

— Arthur Schopenhauer

Como sempre, Schopenhauer é notavelmente consistente. Mesmo em sua filosofia principal, ele enfatiza a importância de se envolver com o mundo real, de aprender sobre as ciências naturais, de fazer observações na natureza para se tornar um filósofo melhor. E também na educação, as crianças deveriam passar mais tempo na natureza e conhecer a vida, em vez de conhecer apenas os livros.


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Fontes: Weltgeist https://www.youtube.com/watch?v=GE30yosa0cs&ab_channel=Weltgeist On-Noise [Ensaio de Arthur Schopenhauer] https://biblioklept.org/2013/06/06/on-noise-arthur-schopenhauer/

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