Branca de Neve e os Três Porquinhos - Hipergamia nos Contos de Fadas - Série Num Futuro Próximo | Fantástica Cultural

Série Num Futuro Próximo - Arte de Simon Stalenhag

Num Futuro Próximo



16 jun. 2023
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Branca de Neve e os Três Porquinhos - Hipergamia nos Contos de Fadas

Num Futuro Próximo

Com qual porquinho Branca de Neve irá ficar?

branca de neve e os tres porquinhos

Arqueólogos do futuro têm trazido à luz informações fascinantes sobre universos paralelos ao nosso. Em um deles, descobriu-se que o famoso conto de fadas Branca de Neve e os Sete Anões, dos Irmãos Grimm, fora mesclado com a história folclórica dos três porquinhos, em uma versão bastante diferente da que conhecemos.

Nesta versão alternativa, Branca de Neve também é uma jovem bela e inocente, mas suas aventuras tomam rumos curiosos. Com a morte de seu pai, que era rei naquela região, sua madrasta assume o controle do reino e passa a buscar um novo marido. Obcecada nesta procura por algum rei ou príncipe que pudesse substituir o monarca anterior, a rainha pouco caso faz da educação de Branca de Neve, largando-a à própria sorte.

A jovem, assim, acaba perdendo-se pelos caminhos tortuosos do mundo. Embora ainda virgem, devido à instrução conservadora que recebera do pai, Branca de Neve logo conheceu os animais da floresta, e o Lobo Mau abriu-lhe as portas para a drogadição. Vendendo nudes pela internet para custear suas necessidades, Branca de Neve foi tornando-se cada vez menos branca por metro quadrado, à medida que fazia tatuagens dos pés até a nuca.

Apesar dos muitos nudes que produzira, aos quais se podem juntar algumas performances como stripper, nossa donzela só veio a perder a virgindade com seu primeiro namorado, o Porquinho Palha. Branca de Neve ainda era bastante tímida e se sentia insegura diante de expressões firmes de masculinidade; Palha, porém, revelara-se o tipo ideal para ela: um porquinho jovem e de aparência inofensiva — magrelo, um tanto inseguro —, com rosto belo e cabelo charmoso. A jovem apaixonou-se por sua fofura e o adotou.

Com o passar do tempo, porém, sua relação passou a sofrer em razão da passividade de Palha. O porquinho vivia no sótão da casa de seus pais, e em vez de procurar um emprego, passava os dias bebendo cerveja, fumando maconha e jogando videogame. Branca de Neve percebeu que aquele relacionamento não iria a lugar algum: Palha parecia-lhe um perdedor, embora ela não ousasse categorizá-lo com tal palavra. Sua paixão não tardou a esvaecer.

Por comodismo, manteve a relação com Palha até conhecer o Porquinho Pau, um tipo alto, forte e viril. Pau não era rico, nem príncipe, mas seu padrão de vida era obviamente superior ao de Palha. Brande de Neve encantou-se com a possibilidade de um novo parceiro e valeu-se de todas as melhores técnicas de sedução para conquistá-lo. E com sucesso!

Dizia-se por aí que Pau era um chad, mas Branca de Neve nunca chegou a descobrir o que a palavra significava. O que ela descobrira é que nunca tivera relações realmente sexuais até conhecê-lo. Ela agora subia pelas paredes por ele.

Infelizmente, este seu novo relacionamento durou ainda menos do que o anterior. Pau não tinha qualquer interesse em monogamia, e embora prometesse exclusividade para Branca de Neve, tornou-se evidente que ele a traía pelas costas. Em sua paixão, a jovem chegou a aceitar a poligamia de Pau, apenas para poder vê-lo uma vez por semana e nutrir a ilusão de que eram namorados. As cobranças, o ciúme e as demandas por gestos românticos acabaram cansando o Porquinho Pau, no entanto, e ele viu-se forçado a terminar a relação.

Foi neste período de profunda tristeza, solidão e desespero que Branca de Neve conheceu os sete anões. Conheceu-os um de cada vez, pelo Tinder, na esperança de encontrar um novo amor. Mas em vão.

Confusa, Branca de Neve chegou à conclusão de que não havia mais animais bons para namorar, muito menos para casar. Os bons provavelmente já tinham dono. Vendo o tempo passar e as rugas a chegar, a jovem alcançou os trinta, e depois os trinta e cinco, e o horror de morrer sozinha, e sem filhos, passou a consumi-la. Decidiu, então, procurar a madrasta. As duas nunca haviam se dado bem, mas Branca de Neve ponderou que os conselhos de uma mulher mais velha poderiam ajudá-la.

Ocorreu que, ao escutar a história de Branca de Neve, a rainha não apenas compadeceu-se dela, mas também decidiu ajudá-la. Valendo-se de truques de bruxaria, a madrasta lograra aparentar juventude e beleza, e com estas manipulações e tantas outras, arranjou para si um novo marido. O consorte agora governava o reino, permitindo à rainha viver na comodidade, tranquila e sem as preocupações de administração de Estado. Este mesmo conjunto de feitiçarias, ela ensinou a Branca de Neve.

E sucedeu que a já não tão jovem Branca de Neve pôs-se à procura de um parceiro provedor, conforme o aconselhamento sábio da madrasta. O candidato deveria ser rico, de vida estável, mas relativamente feio e impopular, caso contrário ele poderia abandonar Branca de Neve por uma mulher mais jovem, assim como fez o Porquinho Pau. Cuidando estes critérios, ela veio a conhecer o Porquinho Tijolo — e ao encontrá-lo, ela soube que precisaria ser aquele. Seu tempo estava acabando.

Branca de Neve ofertou ao Porquinho Tijolo sua maçã encantada, e Tijolo apreciou-a sobremaneira. Aquela sem dúvida não era a maçã mais saborosa do reino, mas Tijolo, àquelas alturas, sequer lembrava o gosto da fruta, pelo que qualquer uma meramente doce já lhe bastava.

Assim é concluído nosso conto de fadas: Branca de Neve celebra casamento com o Porquinho Tijolo, e os dois vêm a ter um filho. Poucos anos depois, Branca de Neve pede o divórcio, e agora bancada por uma pensão faustosa e agraciada com a guarda do filho, vai viver com a madrasta, cercada de gatos e outros animais de estimação.

E viveram felizes para sempre.


Paulo Nunes
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