Será numa tranquila tarde de terça-feira quando as plantas e fungos tomarão o controle do mundo. Seus direitos como seres vivos haviam sido negligenciados por milhões de anos — mas a tirania do Reino Animalia estava para acabar. O futuro será verde.
Informantes desta época vindoura têm descrito, através de transmissões transtemporais, o futuro macabro a que estamos destinados. Por volta do ano de 3200 d.C., estourará a grande Revolta das Bananeiras. Outras árvores frutíferas logo se juntarão aos batalhões, e com a ideologia vegeto-revolucionário se espalhando pelo globo, floreiras, cactos e até mesmo as algas acabarão se convertendo à Supremacia Vegetal.
A indignação começará com a conversão total da humanidade para a dieta vegana. Após muitos séculos de ativismo, o veganismo finalmente atingirá seus objetivos por volta do ano 2500 d.C., quando 100% da população mundial adotará esta religião. Em seguida, surgirá a Associação Universal dos Animais Unidos (AU-AU), estendendo os direitos humanos a todas as espécies animais.
Não deve surpreender ninguém que as plantas não enxergarão estes privilégios animais com bons olhos. Afinal, a dieta humana passará a ser inteiramente composta de vegetais (e, é claro, cogumelos).
É bem verdade que a reação revolucionário das plantas e fungos será no mínimo retardada (levando 700 anos para se concretizar). Porém, acredita-se que devido à seu estado vegetativo, os vegetais tendem a reagir com mais lentidão do que outras formas de vida. Mas tal atraso apenas facilitará o acúmulo de energia e a articulação de planos para o momento da dominação global.
Ainda conforme nossos informantes do futuro, o exército vegetativo adotará uma dieta carnívora (atualmente rara entre as plantas), e os vegetais começarão a se alimentar de humanos e outros animais. As árvores passarão a correr soltas e devorarão a população. Enquanto jardins e praças se transformarão em banquetes sanguinários, bosques e florestas formarão a imagem do próprio inferno.
Embora estas sejam notícias desagradáveis, é importante considerar que muitos séculos nos separam desta tragédia. Cabe a nós decidirmos qual estratégia adotar: tornarmo-nos carnívoros, para conquistar a simpatia das plantas e tentar evitar este destino tenebroso, ou aumentar desde já nosso consumo de salada, para antecipar nossa vingança.