Branca de Neve e os Sete Anões - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo | Fantástica Cultural

Artigo Branca de Neve e os Sete Anões - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo
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Branca de Neve e os Sete Anões - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo

Autores Selecionados ⋅ 22 abr. 2023
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Conheça a versão original de um dos contos de fadas mais famosos da literatura universal.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 2

Uma vez, há muito, muito tempo, no meio do inverno, enquanto flocos de neve caíam do céu como fina plumagem, uma rainha, nobre e bela, estava ao pé de uma janela aberta, cuja moldura era de ébano. Bordava distraída e, de quando em quando, olhava os flocos caindo. Acabou espetando o dedo com a agulha e três gotinhas de sangue vermelho caíram na neve, produzindo um efeito tão lindo, o branco manchado de vermelho e realçado pela negra moldura da janela, que a rainha suspirou e disse para si mesma: "Quem me dera ter uma filha tão branca como a neve, os lábios vermelhos como o sangue e cabelos negros como o ébano!"

Algum tempo depois, teve uma filhinha cuja pele era tão branca como a neve, os lábios eram vermelhos como o sangue e com cabelos negros como o ébano. Chamaram a menina de Branca de Neve, mas, quando a criança nasceu, a rainha faleceu.

Decorrido o ano de luto, o rei casou-se em segundas núpcias com uma princesa de grande beleza mas extremamente má e orgulhosa. Ela não podia suportar a ideia de que alguém pudesse ser mais bonita do que ela.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 99

Possuía um espelho mágico, no qual frequentemente se mirava e admirava.

E, então, dizia:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

O espelho respondia:

— É Vossa Realeza
a mulher mais bela
Desta redondeza.

Ela, então, sentia-se feliz porque sabia que o espelho só podia dizer a pura verdade.

No entanto, Branca de Neve crescia e aumentava em beleza e graça. Aos sete anos de idade era tão linda como a luz do dia e muito mais que a rainha. Um dia, a rainha, sua madrasta, consultou como de costume o espelho:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

O espelho respondeu:

— Real senhora, sois aqui a mais bela,
Porém Branca de Neve
É de vós ainda mais bela!

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 5

A rainha estremeceu e ficou verde de inveja. E daí, então, cada vez que via Branca de Neve seu coração tinha verdadeiros sobressaltos de raiva. Sua inveja e seus ciúmes desenvolviam-se qual erva daninha, não lhe dando mais sossego, nem de dia nem de noite. Enfim, já não podendo mais, mandou chamar um caçador e disse-lhe:

— Leva essa menina para a floresta, não quero mais tornar a vê-la. Leva-a como puderes para a floresta, onde tens de matá-la. Traze-me, porém, o coração e o fígado como prova de sua morte.
O caçador obedeceu. Levou a menina para a floresta, e, quando pegou o facão para enterrá-lo no coraçãozinho puro e inocente, ela desatou a chorar, implorando:


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— Ah, querido caçador, deixa-me viver! Prometo ficar na floresta e nunca mais voltar ao castelo. Assim, quem te mandou matar-me nunca saberá que me poupaste a vida.

Era tão linda e meiga que o caçador, que era bom homem, apiedou-se dela e disse:

— Pois bem, então fuja, porque aqui você corre perigo!

Mas no fundo ele ia pensando: "Nada arrisco, pois os animais ferozes vão devorá-la em breve e a vontade da rainha será satisfeita sem que eu seja obrigado a suportar o peso de um crime."

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 4

Justamente nesse momento passou correndo um veado. O caçador matou-o, tirou-lhe o coração e o fígado e levou-os à rainha como se fossem de Branca de Neve. O cozinheiro foi incumbido de prepará-los e assá-los. E, no seu rancor feroz, a rainha comeu-os com alegria desumana, certa de estar comendo o coração e o fígado de Branca de Neve.

Durante esse tempo a pobre menina, que ficara abandonada na floresta, vagava trêmula de medo, sem saber o que fazer. Tudo a assustava, o ruído da brisa, uma folha que caía, enfim, tudo produzia nela um terrível pavor. Ouvindo o uivar dos lobos, pôs-se a correr cheia de terror; os pezinhos delicados feriam-se nas pedras pontiagudas e estava toda arranhada pelos espinhos. Passou ao pé de muitos animais ferozes, mas estes não lhe fizeram mal algum. Enfim, à noitinha, cansada e ofegante, encontrou-se diante de uma linda casinha situada no meio de uma clareira. Entrou, mas não viu ninguém.

Contudo, a casa devia ser habitada, pois notou que tudo estava muito limpo e arrumadinho, dava gosto de se ver. Numa graciosa mesa coberta com uma toalha branca, com sete pratinhos, sete colherinhas, sete garfinhos, sete faquinhas e sete copinhos, tudo perfeitamente em ordem. No quarto ao lado, viu sete caminhas uma junto da outra, com seus lençóis muito brancos.

Branca de Neve, que morria de fome e sede, não resistiu e comeu um pouquinho do que estava servido em cada pratinho, mas, não querendo privar nem um só dono de seu alimento, tirou somente um bocadinho de cada e bebeu apenas um golinho do vinho de cada um.

Depois, não aguentando a canseira, foi deitar-se numa caminha, mas a primeira era curta demais, a segunda muito estreita, experimentando-as todas até que a sétima tinha a medida certa. Então, fez sua oração e logo adormeceu profundamente.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 9

Ao anoitecer, chegaram os donos da casa. Eram os sete anões, que trabalhavam durante o dia na escavação de minério na montanha. Cada qual acendeu uma lanterninha e, quando a casa se iluminou, viram que alguém entrara em sua casa, porque não estava tudo na ordem perfeita conforme haviam deixado ao sair.

Sentaram-se à mesa, e, então, disse o primeiro:

— Quem mexeu na minha cadeirinha?

O segundo:

— Quem comeu do meu pratinho?

O terceiro:

— Quem tocou no meu pãozinho?

O quarto:

— Quem usou o meu garfinho?

O quinto:

— Quem tirou um pouco da minha verdurinha?

O sexto:

— Quem cortou com a minha faquinha?

E o sétimo:

— Quem bebeu do meu copinho?

Depois da refeição, foram para o quarto e notaram logo as caminhas amassadas. O primeiro reclamou:

— Quem deitou na minha caminha?

— E na minha? E na minha? — gritaram os outros, cada qual examinando a própria cama.

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Enfim, o sétimo descobriu Branca de Neve dormindo a sono solto na sua caminha. Correram todos com suas lanterninhas e cheios de admiração exclamaram:

— Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Que linda menina!

Ficaram tão admirados com ela que não quiseram acordá-la e deixaram-na dormir tranquilamente. O sétimo anão dormiu uma hora com cada um de seus companheiros. E assim passou a noite.

No dia seguinte, quando Branca de Neve acordou e se levantou, ficou muito assustada ao ver os sete anões. Mas eles sorriram-lhe e perguntaram com a maior amabilidade:

— Como te chamas?

— Chamo-me Branca de Neve — respondeu ela.

— Como vieste aqui à nossa casa?

Ela contou-lhes como sua madrasta mandara matá-la e como o caçador lhe permitira que vivesse na floresta. Após ter corrido o dia todo, chegara ali e, vendo a linda casinha, entrara para descansar um pouco. Os anões perguntaram-lhe:

— Queres ficar conosco? Aqui não te faltará nada, só tens que cuidar da casa, fazer nossa comida, lavar e passar nossa roupa, coser, tecer nossas meias e manter tudo muito limpo e em ordem, mas, quando tiveres acabado o teu trabalho, serás a nossa rainha.

— Sim — disse a menina —, ficarei convosco de todo o coração!

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 3

E ficou morando com eles, procurando manter tudo sempre em ordem. Pela manhã, eles partiam para as cavernas em busca de ouro e minérios e, à noite, quando voltavam, todos jantavam juntos muito alegres. Como a menina ficava sozinha durante o dia, os anões advertiram-na:

— Toma cuidado com a tua madrasta. Não tardará a saber onde estás, por isso, durante nossa ausência, não deixes entrar ninguém aqui.

A rainha, entretanto, certa de ter comido o fígado e o coração de Branca de Neve, vivia despreocupada e pensava, satisfeita, que era novamente a primeira e mais bela mulher do reino. Certo dia, porém, foi consultar o espelho, certa de que lhe responderia não ter mais nenhuma rival em beldade.

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

Imaginem a sua raiva quando o espelho lhe respondeu:

— Real senhora, do país sois a mais formosa,
Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive
e em casa dos sete anões,
é de vós mil vezes mais formosa!

A rainha ficou furiosa, pois sabia que o espelho não podia mentir. Percebeu, assim, que o caçador a enganara e que Branca de Neve continuava a viver. Novamente devorada pelo ciúme e pela inveja, só pensava numa maneira de fazer a menina desaparecer.

Pensou, pensou, pensou, depois pintou o rosto e disfarçou-se de velha vendedora de quinquilharias, completamente irreconhecível. Assim disfarçada, atravessou as sete montanhas e foi à casa dos sete anões. Chegando lá, bateu à porta e gritou:

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 1

— Belas coisas para vender, belas coisas. Quem quer comprar?

Branca de Neve, que estava no primeiro andar e se aborrecia por ficar sozinha todo o santo dia, abriu a janela e perguntou-lhe o que tinha para vender.

— Ah! Coisas lindíssimas — respondeu a velha —, olhe este fino e elegante cinto.

E mostrou um cinto de cetim cor-de-rosa, todo de seda colorida. "Posso deixar esta boa mulher. Posso deixar entrar sem perigo", calculou Branca de Neve. Então desceu, puxou o ferrolho e comprou o cinto. Mas a velha disse- lhe:

— Tu não vai conseguir sozinha! Vem, desta vez eu te ajudarei a fazê-lo como se deve.

A menina se aproximou confiante na frente da velha, deixando que lhe abotoasse o cinto. Então a cruel inimiga, mais que depressa, apertou-o com tanta força que a menina perdeu a respiração e caiu desacordada no chão.

— Agora sim! — exclamou a rainha, muito contente. — Já foste a mais bela!

E fugiu rapidamente, voltando ao castelo.

Mas, felizmente, os anões, nesse dia, tendo terminado o trabalho mais cedo que de costume, voltaram logo para casa. E qual não foi seu susto ao verem a querida Branca de Neve estendida no chão, rígida como se estivesse morta! Ergueram-na e viram que o cinto apertava demais sua cinturinha. Logo o desabotoaram e ela começou a respirar levemente, e pouco a pouco voltou a si e pôde contar o que aconteceu. Os anões disseram-lhe:

— Foste muito imprudente. Aquela velha não era senão a tua horrível madrasta. Portanto, no futuro, deves ter cuidado e não deixes entrar mais ninguém quando não estivermos em casa.

A rainha malvada, logo que chegou ao castelo, correu ao espelho, esperando, enfim, ouvi-lo proclamar a sua absoluta beleza, o que para ela soava mais deliciosamente que tudo, e perguntou:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

E o espelho respondeu:

— Real senhora, do país sois a mais formosa,
Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive
e em casa dos sete anões,
é de vós mil vezes mais formosa!

A essas palavras, a rainha sentiu o sangue gelar nas suas veias. Empalideceu de inveja e, depois, torcendo-se de raiva, compreendeu que a rival ainda estava viva. Pensou novamente num meio de se livra dela, causa de seu rancor.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 6

"Ah, desta vez hei de arranjar alguma coisa que será a tua ruína!" E, como entendia de bruxarias, pegou um belo pente cravejado de pérolas e o mergulhou num veneno feito por ela própria.

Depois, disfarçando-se de outro modo, dirigiu-se para a casa dos sete anões. Bateu à porta, gritando:

— Belas coisas para vender! Coisas bonitas e baratas. Quem quer comprar?

Branca de Neve abriu a janela e disse:

— Podeis seguir vosso caminho, boa mulher. Não posso abrir a porta para ninguém.

— Mas olhar, apenas, não te será proibido! — disse a velha. — Olha este pente cravejado de pérolas e digno de uma princesa. Pega nele e admira-o de perto, nada pagarás por isso!

Branca de Neve deixou-se tentar pelo brilho das pérolas. Depois de o ter examinado bem, quis comprá-lo e abriu a porta à velha, que lhe disse:

— Espera, vou ajudar-te a pôr o pente nos teus lindos e sedosos cabelos.

A pobre menina, sem suspeitar de nada, deixou-a entrar. A velha enterrou-lhe o pente com violência. Mal os dentes tocaram na pele, Branca de Neve caiu fulminada sob a ação do veneno.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 91

— Eis-te enfim bem morta, Flor de Beleza! Agora tudo se acabou para ti! — exclamou a rainha, soltando uma gargalhada medonha e apressando-se a regressar ao castelo.

Por grande sorte da menina, já estava anoitecendo e os anões não tardaram a chegar. Quando viram Branca de Neve estendida no chão, desacordada, logo adivinharam nisso a mão da madrasta. Procuraram o que lhe poderia ter feito e encontraram o pente envenenado. Assim que o tiraram da cabeça, a menina voltou a si e pôde contar o que sucedera. Novamente pediram para que tomasse cuidado e não abrisse a porta a ninguém, dizendo:

— Foi ainda tua madrasta quem te pregou essa peça. É preciso que nos prometas que nunca mais abrirás a porta, seja lá a quem for.

Branca de Neve prometeu tudo o que os anões lhe pediram. De volta ao castelo, a rainha correu até o espelho e perguntou:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

Mas a resposta foi a mesma. O espelho repetiu:

— Real senhora, do país sois a mais formosa,
Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive
e em casa dos sete anões,
é de vós mil vezes mais formosa!

Ao ouvir tais palavras, ela teve um acesso de raiva e gritou:

— Hás de morrer, criatura miserável, ainda que isso custe minha própria vida!!

Levou vários dias consultando todos os livros de bruxaria. Finalmente fechou-se num quarto secreto, onde jamais entrava viva alma e aí preparou uma maçã envenenada. Por fora era mesmo tentadora, branca e vermelha, e com um perfume tão delicioso que despertava a gula de qualquer um, mas, quem provasse um pedacinho, teria morte infalível.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 92

Tendo assim preparado a maçã, pintou o rosto e disfarçou-se de camponesa e como tal encaminhou-se, atravessando as sete montanhas e indo bater à casa dos sete anões. Branca de Neve saiu à janela e disse:

— Vá embora, boa mulher, não posso abrir a ninguém. Os sete anões me proibiram.

— Não preciso entrar — respondeu a falsa camponesa —, podes ver as maçãs pela janela, se as quiseres comprar. Eu venderei minhas maçãs em outro lugar, mas quero dar-te esta de presente. Vê como ela é magnífica! Prova um pedacinho, estou certa de que a acharás deliciosa!

— Não, não — respondeu Branca de Neve —, não me atrevo a aceitar.

— Tem medo que esteja envenenada? — perguntou a mulher. — Olha, vou comer a metade da maçã e tu depois poderás comer o resto para veres que deliciosa é ela.

Cortou a maçã e pôs-se a comer a parte mais branca, pois a maçã havia sido habilmente preparada, de maneira que o veneno estava todo concentrado na parte vermelha. Branca de Neve, tranquilizada, olhava para a linda maçã e, quando viu a camponesa mastigar a sua metade, não resistiu, estendeu a mão e pegou a parte envenenada. Logo que deu a primeira mordida, caiu no chão, sem vida. Então a madrasta malvada contemplou-a com ar cruel. Depois, saltando e rindo com uma alegria tremenda, exclamou:

— Branca como a neve, rosada como o sangue e negra como o ébano! Eis-te, enfim, morta, morta, criatura atormentadora! Desta vez nem todos os anões do mundo poderão despertar-te!

Apressou-se a voltar ao castelo. Mal chegou, dirigiu-se ao espelho e perguntou:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

Desta vez o espelho respondeu:

— De toda a redondeza, agora,
Real senhora,
sois vós a mais formosa!

Então seu coração tranquilizou-se, enfim, tanto quanto é possível a um coração invejoso e mau.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 7

Os anões, regressando à noitinha, encontraram Branca de Neve estendida no chão, morta. Levantaram-na e procuraram, em vão, o que pudera causar-lhe a morte. Procuraram alguma coisa no vestido, pentearam-lhe o cabelo, lavaram-na com água e vinho, mas tudo foi inútil: a menina estava realmente morta.

Então, colocaram-na numa cama e choraram durante três dias. Depois pensaram em enterrá-la, porém ela conservava as cores frescas e rosadas como se estivesse dormindo. Eles então disseram:

— Não, não podemos enterrá-la.

Fabricaram um caixão de cristal para que fosse visível de todos os lados e gravaram na tampa, com letras de ouro, o seu nome e sua origem real. Colocaram-na dentro e levaram-na para o cume da montanha vizinha, onde ficou exposta, e cada um por sua vez ficava ao pé dela para protegê-la dos animais ferozes. Mas podiam dispensar-se disso. Os animais todos da floresta, mesmo os abutres, os lobos, os ursos, e as delicadas pombinhas, vinham chorar ao pé da inocente menina.

Muitos anos se passaram e Branca de Neve parecia estar dormindo, pois sua tez era ainda como a desejara a mãe: branca como a neve, rosada como o sangue e os longos cabelos negros como ébano. Não tinha o menor sinal de morte.

Um belo dia, um jovem príncipe, filho de um poderoso rei, tendo-se extraviado durante a caça na floresta, chegou à montanha onde Branca de Neve repousava. Viu-a e ficou deslumbrado com tanta beleza, leu o que estava gravado em letras de ouro e não a esqueceu mais.

Então perguntou aos anões:

— Dai-me esse caixão. Eu vos darei todos os meus tesouros para poder levá-lo ao meu castelo.

Mas os anões responderam:

— Não, não daremos a nossa querida filha nem por todo o ouro do mundo. O príncipe caiu em profunda tristeza e permaneceu extasiado na contemplação da beleza tão pura de Branca de Neve, e tornou a pedir aos anões:

— Por favor, deixem-me levá-la, já não posso mais viver sem tê-la diante de meus olhos. Quero dar-lhe as honras que só se prestam ao ser mais amado neste mundo.

Ao ouvirem essas palavras, e vendo a grande tristeza do príncipe, os anões compadeceram-se dele e deram-lhe Branca de Neve, certos de que ele não deixaria de colocá-la na sala de honra do seu castelo.

branca de neve e os sete anoes irmaos grimm 8

O príncipe mandou que seus empregados pegassem o caixão e o carregassem nos ombros. Aconteceu, porém, que um dos criados tropeçou numa raiz e, com o solavanco, saltou fora da sua garganta um pedaço de maçã que ela mordera mas não engolira. Então Branca de Neve despertou, respirou profundamente, abriu os olhos, levantou a tampa do caixão e sentou- se: estava viva.

— Meu Deus, onde estou? — exclamou ela. O príncipe, radiante de alegria, disse-lhe:

— Estás comigo. Agora acabaram todos os teus tormentos. És para mim mais preciosa que tudo quanto há no mundo. Vamos ao castelo de meu pai, que é um grande e poderoso rei, e serás a minha esposa bem-amada.

Como o príncipe era encantador e muito gentil, Branca de Neve aceitou-lhe a mão. O rei, muito satisfeito com a escolha do filho, mandou preparar tudo para umas núpcias suntuosas. Para a festa, além dos anões, foi convidada também a má rainha que, ignorando quem era a noiva, vestiu os seus mais ricos trajes, para ofuscar todas as damas e donzelas. Depois de vestida, foi contemplar-se no espelho, certa de ouvir proclamada sua beleza triunfante. Perguntou:

— Espelho, espelho meu,
Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela
De toda a redondeza?

Qual não foi seu espanto ao ouvi-lo responder:

— Real senhora, de todas aqui sois a mais bela agora,
Mas a noiva do filho do rei,
é de vós mil vezes mais formosa!

A perversa mulher começou a gritar e ficou tão exasperada que não podia controlar-se e não queria mais ir à festa. Entretanto, como a inveja não lhe dava tréguas, sentiu curiosidade de ver a jovem rainha.

Quando fez a entrada no castelo, perante a corte reunida, Branca de Neve logo reconheceu sua madrasta e quase desmaiou de susto. A horrível mulher fitava-a como uma serpente. Mas sobre o braseiro já estavam prontos um par de sapatos de ferro, que haviam ficado a esquentar em ponto de brasa. Os anões apoderaram-se dela e, calçando-lhe à força aqueles sapatos quentes como fogo, obrigaram-na a dançar, a dançar, a dançar, até cair morta no chão.

Em seguida, realizou-se a festa com um esplendor jamais visto sobre a terra, e todos, grandes e pequenos, ficaram profundamente alegres.

maca

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