
A maior parte do que somos, do que nos constitui, reside enterrada nas profundezas do inconsciente. Ninguém sabe ao certo o que acontece lá, mas não há dúvidas entre os neurocientistas de que a atividade nos subsolos da mente nunca acaba. O cérebro nunca para de trabalhar. Entre os neurônios, quase tudo se conecta, em teias de associações cinestésicas: sons remetem a cores, cores a cheiros, cheiros a palavras, palavras a rostos, rostos a movimentos, movimentos a dores — a corrente é interminável.
Não há, portanto, qualquer contradição entre uma defesa da racionalidade e a exploração da caótica máquina de sonhos do inconsciente.
Segundo alguns psicólogos, pessoas orientadas para a direita política se dão melhor na administração de empresas no longo prazo, enquanto pessoas orientadas para a esquerda política se dão melhor na identificação de oportunidades de mercado e na criação de novos modelos de negócio. No perfil psicológico de direitistas e esquerdistas, também se identifica que os primeiros apresentam maior conscienciosidade (isto é, ser cuidadoso e diligente), enquanto os segundos apresentam maior abertura para a experiência (isto é, disposição para tentar coisas novas e potencialmente arriscadas).

Em uma cultura racional e construtiva, torna-se óbvio que ambos os grupos (direita e esquerda) desempenham uma função crucial na sociedade, e que os pontos de vista e estratégias descritos acima (cuidado e diligência, por um lado, e exploração e inovação, por outro) são todos válidos e complementares. É claro que a polarização política extremada pode levar à radicalização e a uma instabilidade potencialmente destrutiva, mas a solução para isso não é a erradicação de nenhum dos grupos, mas sua coexistência pacífica e coordenada.
E é a partir da exploração de ideias, da abertura da mente aos devaneios e disparates que brotam do inconsciente, que eventuais insights podem ocorrer.
Sem essa brincadeira com a fantasia, nenhum trabalho criativo jamais chegou a nascer. A dívida que devemos ao jogo da imaginação é incalculável. — Carl Jung
Embora indivíduos da esquerda política tendam a explorar mais as áreas imaginativas (criando arte, consumindo alucinógenos, ou defendendo utopias mirabolantes), todo ser humano pode explorar sua imaginação. Trata-se do mundo dos sonhos, um portal para o País das Maravilhas, fonte de fascínio infinita, que todos possuímos dentro do crânio. E foi banhando-se nesta fonte que as mais célebres obras de arte, música, literatura e cinema puderam nascer.
Eu gosto daquilo que não faz sentido, porque acorda as células cerebrais. A fantasia é um ingrediente necessário à vida. — Dr. Seuss

Além de toda a diversão que essas aventuras podem proporcionar, ainda se deve notar que a imaginação é o reino do que pode vir a ser. É um caos misterioso, incompreensível, mas fascinante cujo potencial criador é virtualmente infinito: de seu redemoinho de ideias absurdas, contraditórias, indizíveis, brotam as epifanias que revolucionam a humanidade.
No entanto, esteja atento para o potencial destrutivo que o inconsciente pode manifestar — as partes negativas de nossa identidade reprimida a que Carl Jung denominou de sombra.
Ainda que todos possuamos uma sombra (isto é, uma parte de nossa identidade que reprimimos, por ser inadequada frente à sociedade ou à ética), as pessoas que não reconhecem sua sombra são as mais propensas a deixá-la agir. Se a sombra é um espécie de monstro que vive em nossa mente, a melhor estratégia para controlá-la é conhecer seu comportamento e manter-se informado de onde ele está e o que está fazendo. A maior parte das pessoas, porém, ignora a existência de sua sombra; elas não a enxergam, pelo que a sombra vagueia livre, influenciando seu comportamento.
Quando saudáveis, manifestamos o que Aristóteles chamaria de "o Belo". Instintivamente, reparamos nos traços de beleza, simetria, ordem e apuro nas pessoas e no ambiente à sua volta. Uma casa caótica, assim, tende a indicar um morador mentalmente caótico (de forma geral, é claro).

Assim, a beleza do ambiente está associada à saúde mental e a melhora do humor, especialmente quanto associada ao contato com a natureza. A própria atividade de cultivar a beleza e a organização proporcionam benefícios cognitivos, tranquilidade e diminuição de estresse. Ao contrário, ambientes desorganizados são percebidos pela visão periférica como hostis, gerando, mesmo que de forma inconsciente, desconforto, ansiedade e irritabilidade.
Ao contrário de outros movimentos sociais que têm celebrado a feiura, a sujeira, a baixaria, a decrepitude, a vulgaridade, talvez seja mais produtivo e saudável trazer de volta a beleza em toda a sua glória: na apreciação das artes visuais, da música, da arquitetura, do cinema, e na própria celebração do corpo humano, do masculino e do feminino, em suas formas áureas.
A celebração da ruína, do feio, do decadente, da degenerescência, da desconstrução de tudo, parece ser também uma manifestação do inconsciente — uma revelação do interior dos indivíduos através das características externas. Por mais deprimente que seja, talvez seja uma vantagem que se nos mostre tão evidente: assim podemos supor, ainda que com certa margem de erro, com quem estamos lidando.
Portanto, cuide do mundo à sua volta para o bem da sua mente, e cuide da sua mente, para o bem do mundo à sua volta.