O Poço e o Pêndulo - Edgar Allan Poe | Conto Completo | Fantástica Cultural

Artigo O Poço e o Pêndulo - Edgar Allan Poe | Conto Completo
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O Poço e o Pêndulo - Edgar Allan Poe | Conto Completo

Autores Selecionados ⋅ 9 jan. 2021
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Com selvagem desespero no coração, abri rapidamente os olhos. Meus piores pensamentos foram, então, confirmados. A espessa escuridão parecia oprimir-me e sufocar-me. A atmosfera estava extraordinariamente confinada. A sentença fora pronunciada. Contudo, nem por um instante supus que estivesse realmente morto.

O Poço e o Pêndulo, de Edgar Allan Poe

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Eu estava extenuado — extenuado até à morte, por aquela longa agonia. E quando eles, afinal, me desacorrentaram e me foi permitido sentar, senti que ia perdendo os sentidos. A sentença — a terrível sentença de morte — foi a última frase distintamente acentuada que me chegou aos ouvidos.

Depois disto, o som das vozes dos inquisidores pareceu mergulhar num zumbido fantástico e vago. Trazia-me à alma a ideia de rotação, talvez por se associar, na imaginação, com mó de uma roda de moinho. Mas isto durou apenas pouco tempo, pois logo nada mais ouvi. Contudo, durante algum tempo, eu via — porém com que terrível exagero! — eu via os lábios dos juízes vestidos de preto. Pareciam-me brancos, mais brancos do que as folhas de papel sobre as quais estou traçando estas palavras, e grotescamente delgados; mais adelgaçados ainda pela intensidade de sua expressão de firmeza, de imutável resolução, de rigoroso desprezo pela dor humana.

Eu via os decretos do que, para mim, representava o Destino, saírem ainda daqueles lábios. Via-os torceram-se, com uma frase letal. Via-os articularem as sílabas do meu nome. E estremecia, por não ouvir nenhum som em seguida. Via, também, durante alguns minutos de delirante horror, a ondulação leve e quase imperceptível dos panos negros que cobriam as paredes da sala. Você também pode gostar: Descubra mais contos e galerias de horror E, depois, meu olhar caiu sobre as sete grandes tochas em cima da mesa. A princípio, elas tomaram o aspecto da Caridade e pareciam anjos brancos e esbeltos, que me deviam salvar; mas depois, repentinamente, inundou-me o espírito uma náusea mais mortal e senti todas as fibras de meu corpo vibrarem, como se eu tivesse tocado o fio de uma pilha galvânica, enquanto os vultos angélicos se tornavam espectros insignificantes, com cabeças de chama, e via bem que deles não teria socorro. E, então, introduziu-se na minha imaginação, como rica nota musical, a ideia do tranquilo repouso, que deveria haver na sepultura. Essa ideia chegou doce e furtivamente, e parece ter-se passado muito tempo até que pudesse ser completamente percebida.

Mas, no momento mesmo em que o meu espírito começava, enfim, a sentir propriamente e a acarinhar essa ideia, os vultos dos juízes desapareceram, como por mágica, de minha frente; as altas tochas se foram reduzindo a nada; suas chamas se extinguiram por completo; o negror das trevas sobreveio. Todas as sensações pareceram dar um louco e precipitado mergulho, como se a alma se afundasse no Hades. E o universo não foi mais do que noite, silêncio e imobilidade.

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Eu tinha desmaiado; no entanto, não direi, que havia perdido por completo a consciência. Não tentarei definir o que dela ainda permanecia, nem mesmo procurarei descrevê-lo. Todavia, nem tudo estava perdido. No sono mais profundo — não! No delírio — não! No desmaio — não! Na morte — não! Nem mesmo no túmulo tudo está perdido. De outra forma, não haveria imortalidade para o homem. Ao despertar do mais profundo sono, quebramos a teia delgada de algum sonho. Entretanto, um segundo depois, por mais fraca que tenha sido essa teia, não nos lembramos de ter sonhado. No voltar de um desmaio à vida, há duas fases: a primeira, é o sentimento da existência mental ou espiritual, a segunda o sentimento da existência física. Parece provável que se, ao atingir a segunda fase, pudéssemos evocar as impressões da primeira, poderíamos encontrá-las ricas em recordações do abismo transposto. E esse abismo — que é? Como, pelo menos, distinguiremos suas sombras das sombras do túmulo? Mas se as impressões daquilo que denominei a primeira fase não são reevocadas à vontade, todavia, depois de longo intervalo, não aparecem elas espontaneamente, enquanto indagamos, maravilhados, donde poderiam ter vindo? Aquele que nunca desmaiou é quem não descobre palácios estranhos e rostos esquisitamente familiares em brasas ardentes, é quem não percebe a flutuar, no meio do espaço, as tristes visões que a maioria não pode distinguir; é quem não medita sobre o perfume de alguma flor desconhecida: é quem não tem o cérebro perturbado pelo mistério de alguma melodia que, até então, jamais lhe detivera a atenção.

Entre as frequentes e intensas tentativas de recordar, entre as lutas encarniçadas para recolher alguns vestígios daquele estado de aparente aniquilamento, no qual a minha alma havia mergulhado, momentos houve em que eu sonhava ser bem-sucedido; houve períodos breves, bastante breves, em que evoquei as altas figuras que, arrebatando e carregando, em silêncio, recordações, a lúcida razão de uma época posterior me assegura se relacionarem, apenas, àquela condição de aparente inconsciência. Essas sombras de memória falam, indistintamente, para baixo... para baixo, cada vez mais baixo, até que uma horrível vertigem me oprimiu, a simples ideia daquela descida sem fim. Falam-me, também, de um vago horror no coração, por causa mesma daquele sossego desnatural do coração. Depois, sobrevêm uma sensação de súbita imobilidade em todas as coisas; como se aqueles que me transportavam (cortejo espectral) houvessem ultrapassado, na sua descida, os limites do ilimitado e se houvessem detido, vencidos pelo extremo cansaço da tarefa. Depois disso, reevoco a monotonia e a umidade; e, depois, tudo é loucura; a loucura de uma memória que se agita entre coisas repelentes.

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Bem de súbito, voltaram à minha alma o movimento e o som — o tumultuoso movimento do coração e, aos meus ouvidos, o rumor de suas pancadas. Depois, uma pausa em que tudo desaparece. Depois, novamente o som, o movimento e o tato — uma sensação formigante invadindo-me o corpo. Depois, a simples consciência da existência, sem pensamento, situação que durou muito tempo. Depois, bem de repente, o pensamento, e um terror arrepiante, e um esforço ardente de compreender meu verdadeiro estado. Depois, um forte desejo de recair na insensibilidade. Depois, uma precipitada revivescência da alma, e um esforço bem-sucedido de mover-me. E, agora, a plena lembrança do processo, dos juízes, dos panos negros, da sentença, do mal-estar, do desmaio. Por fim, inteiro esquecimento de tudo que se seguiu; de tudo que um dia mais tarde acurados esforços me habilitaram a vagamente recordar.

Até aqui não tinha aberto os olhos. Sentia que estava deitado de costas, desamarrado. Estendi a mão e ela caiu, pesadamente, sobre algo de úmido e duro. Deixei que ela ficasse alguns minutos, enquanto me esforçava por adivinhar onde poderia estar e o que me acontecera. Desejava ardentemente, mas não o ousava, servir-me dos olhos. Receava o primeiro olhar para os objetos que me cercavam; não que eu temesse olhar para coisas horríveis, mas porque empalidecia, temendo que nada houvesse para ver. Por fim, com selvagem desespero no coração, abri rapidamente os olhos. Meus piores pensamentos foram, então, confirmados. Cercava-me o negror da noite eterna. Fiz um esforço para respirar. A espessa escuridão parecia oprimir-me e sufocar-me. A atmosfera estava extraordinariamente confinada. Conservei-me ainda tranquilamente deitado, fazendo esforços para exercitar minha razão. Recordei os processos inquisitoriais e tentei, a partir deste ponto, deduzir minha verdadeira posição. A sentença fora pronunciada e me parecia que bem longo intervalo de tempo havia, desde então, decorrido. Contudo, nem por um instante supus que estivesse realmente morto. Tal suposição, a despeito do que lemos em romances, é completamente incompatível com a existência real. Mas, onde estava eu e em que situarão me encontrava? Sabia que os condenados à morte pereciam, ordinariamente, em autos de fé e se realizara um destes, na mesma noite do dia do meu julgamento. Tinha eu sido reenviado para o meu calabouço à espera da próxima execução, que só se realizaria daí a muitos meses? Vi logo que não podia ser isto. As vítimas haviam sido requisitadas imediatamente. Além disso, meu cárcere, como todas as celas dos condenados em Toledo, tinha soalhos de pedra, e a luz não era inteiramente excluída.

Uma terrível ideia lançou-me, de súbito, o sangue em torrentes, ao coração e, durante breve tempo, mais uma vez recaí no meu estado de insensibilidade. Voltando a mim, pus-me de pé, dum salto, tremendo convulsivamente em todas as fibras. Estendi desordenadamente os braços acima e em torno de mim, em todas as direções. Não sentia nada. No entanto, temia dar um passo, no receio de embater-me com as paredes de um túmulo. Transpirava por todos os poros e o suor se detinha, em grossas bagas, na minha fronte. A agonia da incerteza tornou-se, afinal, intolerável e, com cautela, movi-me para diante, com os braços estendidos. Meus olhos como que saltavam das órbitas, na esperança de apanhar algum débil raio de luz. Dei vários passos, mas tudo era ainda escuridão e vácuo. Respirei mais livremente. Parecia evidente que minha sorte não era, pelo menos, a mais horrenda.

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E então, como continuasse ainda a caminhar, cautelosamente, para diante, vieram-me, em tropel, à memória, mil vagos boatos a respeito dos horrores de Toledo. Narravam-se estranhas coisas dos calabouços, que eu sempre considerara como fábulas, coisas, no entanto, estranhas e demasiado espantosas para serem repetidas, a não ser num sussurro. Ter-me-iam deixado para morrer de fome no mundo subterrâneo das trevas? Ou que sorte, talvez mesmo mais terrível, me esperava? Conhecia muito bem o caráter de meus juízes para duvidar de que o resultado seria a morte, e morte de insólita acritude. O modo e a hora era tudo o que me preocupava e perturbava.

Minhas mãos estendidas encontraram, afinal, um sólido obstáculo. Era uma parede, que parecia construída de pedras, muito lisa, viscosa e fria. Fui acompanhando-a, caminhando com toda a cuidadosa desconfiança que certas narrativas antigas me haviam inspirado. Este processo, porém, não me proporcionava meios de verificar as dimensões de minha prisão, pois eu podia fazer-lhe o percurso e voltar ao ponto donde partira, sem dar por isso, tão perfeitamente uniforme parecia a parede. Por isso é que procurei a faca, que estava em meu bolso quando me levaram à sala inquisitorial, mas não a encontrei. Haviam trocado minhas roupas por uma camisola de sarja grosseira. Pensara em enfiar a lâmina em alguma pequena fenda da parede, de modo a identificar meu ponto de partida. A dificuldade, não obstante, era apenas vulgar, embora, na desordem de minha mente parecesse a princípio insuperável. Rasguei uma parte do debrum da roupa e coloquei o fragmento bem estendido em um ângulo reto com a parede. Tateando meu caminho em torno da prisão, não podia deixar de encontrar aquele trapo, ao completar o circuito. Assim, pelo menos, pensava eu, mas não tinha contado com a extensão da masmorra ou com minha própria fraqueza. O chão estava úmido e escorregadio. Caminhava cambaleando para a frente, durante algum tempo, quando tropecei e caí. Minha excessiva fadiga induziu-me a permanecer deitado e logo o sono se apoderou de mim naquele estado.

Ao despertar e estender um braço achei, a meu lado, um pão e uma bilha d´água. Estava demasiado exausto para refletir naquela circunstância, mas comi e bebi com avidez. Logo depois, recomecei minha volta em torno da prisão e, com bastante trabalho, cheguei, afinal, ao pedaço de sarja. Até o momento em que caí, havia contado cinquenta e dois passos e, ao retomar meu caminho, contara quarenta e oito mais, até chegar ao trapo. Havia, pois ao todo, uns cem passos. E, admitindo dois passos para uma jarda, presumi que o calabouço teria umas cinquenta jardas de circuito. Encontrara, porém, muitos ângulos na parede e, desse modo, não me era possível conjeturar qual fosse a forma do sepulcro, pois sepulcro não podia deixar eu de supor que era.

Não tinha grande interesse — nem certamente esperança — naquelas pesquisas, mas uma vaga curiosidade me impelia a continuá-las. Deixando a parede, resolvi atravessar a área do recinto. A princípio, procedi com extrema cautela, pois o chão, embora parecesse de material sólido, era traiçoeiro e lodoso. Afinal, porém, tomei coragem e não hesitei em caminhar com firmeza, tentando atravessar em linha tão reta quanto possível. Havia avançado uns dez a doze passos desta maneira, quando o resto do debrum rasgado de minha roupa se enroscou em minhas pernas. Pisei nele e caí violentamente de bruços.

Na confusão que se seguiu à minha queda não apreendi uma circunstância um tanto surpreendente, que, contudo, poucos segundos depois, e enquanto jazia ainda prostrado, reteve minha atenção. Era o seguinte: meu queixo pousava sobre o chão da prisão, mas meus lábios e a parte superior de minha cabeça, embora parecendo a menor elevação que o queixo, nada tocavam. Ao mesmo tempo, minha testa parecia banhada dum vapor viscoso e o cheiro característico de fungos podres subiu-me às narinas. Estendi o braço e estremeci, ao descobrir que havia caído à beira dum poço circular, cuja extensão, sem dúvida, não tinha meios de medir no momento. Tateando a alvenaria, justamente abaixo da borda, consegui deslocar um pequeno fragmento e deixei-o cair dentro do abismo. Durante muitos segundos prestei ouvidos a suas repercussões, ao bater de encontro aos lados da abertura, em sua queda. Por fim, ouvi um lúgubre mergulho n´água, seguido de ruidosos ecos. No mesmo instante ouviu-se um som semelhante ao duma porta, tão depressa aberta quão rapidamente fechada, acima de minha cabeça, enquanto um fraco clarão luzia, de repente, em meio da escuridão e com a mesma rapidez desaparecia.

Vi, claramente, o destino que me fora preparado e congratulei-me com o acidente oportuno que me salvara. Um passo a mais e o mundo não mais me veria. E a morte, justamente evitada, era daquela mesma natureza que olhara como fabulosa e absurda nas histórias a respeito da Inquisição. Para as vítimas de sua tirania, havia a escolha da morte com suas mais cruéis agonias físicas, ou da morte com suas mais abomináveis torturas morais. Tinham reservado para mim esta última. O longo sofrimento havia relaxado meus nervos, a ponto de fazer-me tremer ao som de minha própria voz e me tornara, a todos os aspectos, material excelente para as espécies de tortura que me aguardavam. Com os membros todos a tremer, arrepiei caminho, tateante, até a parcele, resolvido a perecer antes que arriscar-me aos terrores dos poços, que minha imaginação agora admitia que fossem muitos, espalhados em todas as direções, no calabouço. Em outras condições de pensamento, poderia ter tido a coragem de dar fim imediato às minhas desgraças, deixando-me cair dentro de um daqueles abismos. Mas, então, era eu o mais completo dos covardes. Nem podia, tão pouco, esquecer o que lera a respeito daqueles poços: que a súbita extinção da vida não estava incluída nos mais horrendos planos dos inquisidores.

A agitação do espírito conservou-me desperto por muitas horas, mas, afinal, mergulhei de novo no sono. Ao despertar, encontrei a meu lado, como antes, um pão e uma bilha d´água. Sede ardente me devorava e esvaziei a vasilha dum trago. Deveria estar com alguma droga, porque, logo depois de beber, fui tomado dum torpor irresistível. Um sono profundo se apoderou de mim — sono semelhante ao da morte. Quanto tempo durou isso, não me é possível dizê-lo, mas quando, mais uma vez, descerrei os olhos, os objetos que me cercavam estavam visíveis. Graças a uma luz viva e sulfúrea, cuja origem não pude a princípio determinar, consegui verificar a extensão e o aspecto da prisão.

Tinha-me enganado grandemente a respeito de seu tamanho. Todo o circuito de suas paredes não excedia de vinte e cinco jardas. Durante alguns minutos, este fato causou-me um mundo de inútil perturbação; inútil, de fato, porquanto que coisas havia de menor importância, nas terríveis circunstâncias que me cercavam, que as simples dimensões de minha masmorra? Mas minha alma interessava-se, com ardor, por bagatelas, e ocupei-me em tentar explicar o erro que havia cometido nas minhas medidas, A verdade, afinal jorrou, luminosa. Na minha primeira tentativa de exploração, havia eu contado cinquenta e dois passos, até o momento em que caí. Deveria achar-me, então, à distância dum passo, ou dois, do pedaço da sarja. De fato, havia quase realizado o circuito da cava. Foi então que adormeci e, ao acordar, devo ter refeito o mesmo caminho, supondo, assim, que a volta da prisão era quase o duplo do que é na realidade. Minha confusão de espírito impediu-me de observar que começara minha volta com a parede à esquerda e a acabara com a parede à direita.

Enganara-me, também, a respeito da forma do recinto. Ao tatear meu caminho, descobrira muitos ângulos e daí deduzi a ideia de grande irregularidade, tão poderoso é o efeito da escuridão absoluta sobre alguém que desperta do letargo ou do sono. Os ângulos eram apenas os de umas poucas e ligeiras depressões, ou nichos, a intervalos desiguais. A prisão era, em geral, quadrada. O que eu tinha tomado por alvenaria parecia, agora, ser ferro, ou algum outro metal, em imensas chapas, cujas suturas, ou juntas, causavam aquelas depressões. Toda a superfície daquele recinto metálico estava grosseiramente brochada com os horríveis e repulsivos emblemas a que a superstição sepulcral dos monges tem dado origem. Figuras de demônios, em atitudes ameaçadoras, com formas de esqueletos, e outras imagens mais realisticamente apavorantes, se espalhavam por todas as paredes, manchando-as. Observei que os contornos daqueles monstros eram bem recortados, mas que as cores pareciam desbotadas e borradas, por efeito, talvez, da atmosfera úmida. Notei, então, o chão, que era de pedra. No centro, escancarava-se o poço circular, de cujas fauces havia eu escapado, mas era o único que se achava no calabouço.

Vi tudo isto indistintamente e com bastante esforço, pois minha condição física tinha grandemente mudado, durante meu sono. Encontrava-me agora de costas e bem espichado, numa espécie de armação de madeira, muito baixa. Estava firmemente amarrado a ela por uma comprida correia dupla. Enrolava-se em várias voltas em torno de meus membros e de meu corpo, deixando livre apenas a cabeça e o braço esquerdo, até o ponto apenas de poder, com excessivo esforço, suprir-me de comida em um prato de barro, que jazia a meu lado no chão. Vi, com grande horror, que a bilha d´água tinha sido retirada. Digo com grande horror, porque intolerável sede me abrasava. Parecia ser intenção de meus perseguidores exacerbar essa sede, pois a comida do prato era uma carne fortemente temperada.

Olhando para cima, examinei o forro de minha prisão. Tinha uns trinta ou quarenta pés de altura e era do mesmo material das paredes laterais. Em um de seus painéis, uma figura bastante estranha absorveu-me toda a atenção. Era um retrato do Tempo, tal como e comumente representado, exceto que, em lugar duma foice, segurava ele aquilo que, ao primeiro olhar, supus ser o desenho dum imenso pêndulo, dos que vemos nos relógios antigos. Havia algo, porém, na aparência daquela máquina, que me fez olhá-la mais atentamente. Enquanto olhava diretamente para ela, lá em cima (pois se achava bem por cima de mim), pareceu-me que se movia. Um instante depois vi isso confirmado. Seu balanço era curto e sem dúvida vagaroso. Estive a observá-lo alguns minutos, mais maravilhado que mesmo amedrontado. Cansado afinal de examinar-lhe o monótono movimento, voltei os olhos para os outros objetos que se achavam na cela.

Leve rumor atraiu-me a atenção e, olhando para o chão, vi vários ratos enormes, que por ali andavam. Haviam saído do poço, que se achava bem à vista, à minha direita. No mesmo instante, enquanto os observava, subiram aos bandos, apressados, com olhos vorazes, atraídos pelo cheiro da carne. Era-me preciso muito esforço e atenção para afugentá-los.

Talvez se houvesse passado uma meia hora, ou mesmo uma hora (pois só podia medir o tempo imperfeitamente), quando ergui de novo os olhos para o forro. O que vi, então, encheu-me de confusão e de espanto. O (balanço do pêndulo tinha aumentado de quase uma jarda de extensão. Como consequência natural, sua velocidade era, também, muito maior. Mas o que sobretudo me perturbou foi a ideia de que ele havia imperceptivelmente descido. Observava agora — com que horror é desnecessário dizer — que sua extremidade inferior era formada por um crescente de aço, cintilante, tendo cerca de um pé de comprimento, de ponta a ponta; as pontas voltavam-se para cima e a borda de baixo era evidentemente afiada como a folha de uma navalha. Como uma navalha, também, parecia pesado e maciço, estendendo-se para cima, a partir do corte, numa sólida e larga configuração. Estava ajustado a uma pesada haste de bronze, e o conjunto assoviava ao balançar-se no ar.

Não pude duvidar, por mais tempo, da sorte para mim preparada pela habilidade monacal em torturas. Minha descoberta do poço fora conhecida dos agentes da Inquisição -, o poço cujos horrores tinham sido destinados para um rebelde tão audacioso como eu; — o poço, figura do inferno, e, considerado pela opinião pública, como a Última Thule (a Última Thule foi o último refúgio pagão dos povos teutônicos, no extremo norte da Terra) de todos os seus castigos! Pelo mais fortuito dos incidentes, tinha eu evitado a queda dentro do poço e sabia que a surpresa ou armadilha da tortura formava parte importante de todo o fantástico daquelas mortes em masmorras. Não tendo caído, deixava de fazer parte do plano demoníaco atirar-me no abismo e dessa forma, não havendo alternativa, uma execução mais benigna e diferente me aguardava. Mais benigna! Quase sorri na minha angústia quando pensei no uso de tal termo.

De que serve falar das longas, das infindáveis horas de horror mais que mortal, durante as quais contei as precipitadas oscilações da lâmina? Polegada a polegada, linha a linha, com uma descida somente apreciável a intervalos que pareciam séculos, descia sempre, cada vez mais baixo, cada vez mais baixo! Dias se passaram — pode ser que se tenham passado muitos dias — até que ele se balançasse tão perto de mim que me abanasse com seu sopro acre. O odor da lâmina afiada entrava-me pelas narinas. Roguei aos céus, fatiguei-os com as minhas preces, para que mais rápida a lâmina descesse. Tornei-me freneticamente louco e forcejei por erguer-me contra o balanço da terrível cimitarra. Mas depois acalmei-me de repente e fiquei a sorrir para aquela morte cintilante, como uma criança diante de algum brinquedo raro.

Houve outro intervalo de completa insensibilidade. Foi curto, pois voltando, de novo à vida, não notei descida perceptível no pêndulo. Mas pode ter sido longo, pois eu sabia que havia demônios que tomavam nota de meu desmaio e que podiam, à vontade, ter detido a oscilação. Voltando a mim, sentia-me também bastante doente e fraco — oh, de maneira inexprimível! — como em consequência de longa inanição. Mesmo em meio das angústias daquele período, a natureza humana implorava alimento. Com penoso esforço, estendi o braço esquerdo, o mais longe que os laços permitiam, e apoderei-me do pequeno resto que me tinha sido deixado pelos ratos. Ao colocar um pedaço de alimento na boca, atravessou-me o espírito uma imprecisa ideia de alegria... de esperança. Todavia, que havia de comum entre mim e a esperança? Era, como eu disse, uma ideia imprecisa, dessas muitas que todos têm e que nunca se completam. Senti que eia de alegria... de esperança, essa ideia; mas também senti que perecera ao formar-se. Em vão eu lutava para aperfeiçoá-la, para recuperá-la. O prolongado sofrimento quase aniquilara todas as minhas faculdades comuns do pensamento. Eu era um imbecil... um idiota.

A oscilação do pêndulo fazia-se em ângulos retos com meu comprimento. Vi que o crescente estava disposto para cruzar a região de meu coração. Desgastaria a sarja de minha roupa... voltaria e repetiria suas operações, de novo... ainda outra vez. Não obstante sua oscilação, terrivelmente larga (de trinta pés ou mais), e a força sibilante de sua descida, suficiente para cortar até mesmo aquelas paredes de ferro, o corte de minha roupa seria, não obstante, tudo quanto durante alguns minutos ele faria. Ao pensar nisto, fiz uma pausa. Não ousava passar além dessa reflexão. Demorei-me nela com uma atenção pertinaz como se, assim fazendo, pudesse deter ali a descida da lâmina. Obriguei-me a meditar sobre o som que o crescente produziria, ao passar através de minha roupa... na característica e arrepiante sensação que a fricção do nano produz sobre os nervos. Meditava em todas estas bagatelas, até me doerem os dentes. Mais baixo... cada vez mais baixo, ele descia. Sentia um frenético prazer em comparar sua velocidade, de alto a baixo, com sua velocidade lateral. Para a direita... para a esquerda, para lá e para cá, com o guincho de um espírito danado! Para o meu coração, com o passo furtivo do tigre! Eu ora ria, ora urrava, à medida que uma ou outra ideia se tornava predominante. Para baixo... seguramente, inexoravelmente para baixo! Oscilava a três polegadas de meu peito! Debatia-me violentamente, furiosamente, para libertar meu braço esquerdo, que só estava livre do cotovelo até a mão. Podia apenas levar a mão à boca, desde o prato que estava ao meu lado, com grande esforço, e nada mais. Se tivesse podido quebrar os liames, acima do cotovelo, teria agarrado e tentado deter o pêndulo. Seria o mesmo que tentar deter uma avalanche!

Para baixo, incessantemente para baixo, inevitavelmente para baixo! Eu ofegava e debatia-me a cada oscilação. Encolhia-me convulsivamente a cada balanço. Meus olhos acompanhavam seus vaivéns, para cima e para baixo, com a avidez do mais insensato desespero; fechavam-se os meus olhos espasmodicamente, no momento da descida, embora a morte viesse a ser para mim um alívio, e oh, que inexprimível alívio! Entretanto, todos os meus nervos tremiam ao pensar que bastava uma simples descaída da máquina para precipitar aquele machado agudo e cintilante sobre meu peito. Era a esperança que fazia assim tremerem os meus nervos, que assim me dava calafrios ao corpo. Era a esperança... a esperança que triunfa, mesmo sobre o cavalete de tortura, a esperança que sussurra aos ouvidos do condenado à morte, até mesmo nas masmorras da Inquisição!

Vi que cerca de dez ou doze oscilações poriam a lâmina em contato com minhas roupas, e a essa observação, subitamente, me veio ao espírito toda a aguda e condensada calma do desespero. Pela primeira vez, durante muitas horas — ou mesmo dias — pensei. Ocorreu-me então que a correia que me cingia era uma . Não estava amarrado por cordas separadas. O primeiro atrito do crescente navalhante, com qualquer porção da correia, a cortaria, de modo que eu poderia depois desamarrar-me com a mão esquerda. Mas quão terrível era, nesse caso, a proximidade da lâmina. Quão mortal seria o resultado do mais leve movimento! Seria verossímil, aliás, que os esbirros do inquisidor não tivessem previsto e prevenido essa possibilidade? Seria provável que a correia cruzasse o meu peito no percurso do pêndulo? Receando ver frustrada minha fraca e, ao que parece, última esperança, elevei a cabeça o bastante, para conseguir ver distintamente o meu peito. A correia envolvia meus membros e meu corpo, em todas as direções, exceto no cantinho do crescente assassino.

Mal deixara cair a cabeça na sua posição primitiva, reluziu em meu espírito algo que eu não saberia melhor definir, senão como a metade informe daquela ideia de libertação, a que já aludi, anteriormente, e da qual apenas uma metade flutuava, de modo vago, em meu cérebro ao levar a comida aos meus lábios abrasados. A ideia inteira estava agora presente — fraca, apenas razoável, apenas definida, mas mesmo assim inteira. Pus-me imediatamente a tentar executá-la, com a nervosa energia do desespero.

Durante muitas horas, a vizinhança imediata da baixa armação de madeira, sobre a qual eu jazia, estivera literalmente fervilhando de ratos. Eram ferozes, audaciosos, vorazes. Seus olhos vermelhos chispavam sobre mim, como se esperassem apenas uma parada de movimentos de minha parte para fazerem de mim sua presa. "A que espécie de alimento — pensei eu — estão eles acostumados neste poço?"

A despeito de todos os meus esforços para impedi-los, tinham devorado tudo, exceto um restinho do conteúdo do prato. Minha mão contraíra um hábito de vaivém ou de balança, em torno do prato e, afinal, a uniformidade inconsciente do movimento privou-o de seu efeito. Na sua voracidade, a bicharia frequentemente ferrava as agudas presas nos meus dedos. Com as migalhas da carne gordurosa e temperada, que ainda restavam, esfreguei toda a correia, até onde podia alcançar. Depois erguendo a mão do chão, fiquei imóvel, sem respirar.

A princípio, os vorazes animais se espantaram, terrificados com a mudança, com a cessação do movimento. Fugiram, alarmados; muitos regressaram ao poço. Mas isso foi só por um momento. Eu não contara em vão com sua voracidade. Observando que eu ficava sem mover-me, um ou dois dos mais audazes pularam sobre o cavalete e farejaram a correia. Parece que isto foi o sinal para uma corrida geral. Do poço precipitaram-se tropas frescas. Subiram pela madeira, correram sobre ela e saltaram, às centenas, por cima de meu corpo. Absolutamente não os perturbou o movimento cronométrico do pêndulo. Evitando-lhe a passagem, trabalhavam sobre a correia besuntada de gordura. Precipitavam-se, formigavam sobre mim, em pilhas sempre crescentes. Torciam-se sobre minha garganta; seus lábios frios tocavam os meus; eu estava semissufocado pelo peso dessa multidão. Um nojo, para que o mundo não tem nome, arfava-me o peito e me enregelava o coração com pesada viscosidade. Mais um minuto, porém, e compreendi que estaria terminada a operação. Claramente percebi o afrouxamento da correia. Sabia que em mais de um lugar ela ia deveria estar cortada. Com resolução sobre-humana, permaneci imóvel.

Nem errara em meus cálculos, nem havia suportado tudo aquilo em vão. Afinal, senti que estava livre. A correia pendia de meu corpo, em pedaços. Mas o movimento do pêndulo já me comprimia o peito. Dividira a sarja de minha roupa. Cortara a camisa por baixo. Duas vezes, de novo, oscilou e uma aguda sensação de dor atravessou todos os meus nervos. Mas chegara o momento de escapar-lhe. A um gesto de minha mão, meus libertadores precipitaram-se, tumultuosamente, em fuga. Com um movimento firme — prudente, oblíquo, encolhendo-me, abaixando-me — deslizei para fora dos laços da correia e do alcance da cimitarra. Por enquanto, ao menos, eu estava livre.

Livre! E nas garras da Inquisição! Mal descera de meu cavalete de horror, para o chão de pedra da prisão, o movimento da máquina infernal cessou e vi que alguma força invisível a arrastava, suspendendo-a através do forro. O conhecimento desse fato me abateu desesperadamente. Cada movimento meu era sem dúvida vigiado. Livre! Eu apenas escapara de morrer numa forma de agonia, para ser entregue a qualquer outra forma pior do que a morte. Com tal pensamento, girei os olhos nervosamente, em volta, sobre as paredes de aço que me circundavam. Qualquer coisa incomum, certa mudança que, a princípio, não pude perceber distintamente, era óbvio, se produzira no aposento. Durante vários minutos de sonhadora e tremente abstração, entreguei-me a vãs e desconexas conjecturas. Nesse período certifiquei-me, pela primeira vez, da origem da luz sulfurosa, que iluminava a cela. Procedia de uma fenda, de cerca de meia polegada de largura, que se estendia completamente em volta da prisão, na base das paredes, as quais assim pareciam que, de fato, eram inteiramente afastadas do solo. Tentei, mas sem dúvida inutilmente, olhar por essa abertura.

Ao erguer-me da tentativa, o mistério da alteração do aposento revelou-se logo à minha inteligência. Eu observara que, embora os contornos das figuras nas paredes fossem suficientemente distintos, suas cores, contudo, pareciam manchadas e indecisas. Tais cores passaram a tomar, e a cada momento tomavam, um brilho apavorante e mais intenso, que dava às espectrais e diabólicas imagens um aspecto capaz de fazer tremerem nervos, mesmo mais firmes que os meus. Olhos de demônio, de vivacidade selvagem e sinistra, contemplavam-me, vindos de mil direções, onde antes nada fora visível, e cintilavam com o lívido clarão de um fogo, que eu não podia forçar a imaginação a considerar como irreal.

Irreal! Mesmo quando respirei, veio-me às narinas o bafo do vapor de ferro aquecido! Um odor sufocante espalhou-se pela prisão! Um fulgor mais profundo se fixava a cada instante nos olhos que contemplavam minhas agonias! Uma coloração, sempre mais intensamente carmesim, difundia-se sobre as horrendas pinturas de sangue! Ofeguei! Esforcei-me para respirar! Não podia haver dúvidas sobre os desígnios de meus atormentadores, oh!, os mais implacáveis, os mais demoníacos dos homens! Fugi do metal ardente, para o centro da cela. Entre as ideias da destruição pelo fogo, que impendia sobre mim, o pensamento do frescor do poço caiu em minha alma como um bálsamo. Atirei-me para suas hordas mortais. Lancei para o fundo os olhares ansiosos. O brilho do teto inflamado iluminava seus mais recônditos recessos. Contudo, por um momento desordenado, o espírito recusou-se a compreender a significação do que eu via. Afinal, obriguei-o a compreender — lutei para que isso penetrasse em minha alma — e isso se gravou em brasa na minha mente trêmula. Oh! Ter uma voz para falar! Oh! Horror! Oh! Qualquer horror, menos esse! Com um grito, fugi da margem e sepultei a face nas mãos, chorando amargamente.

O calor aumentava com rapidez e ainda uma vez olhei para cima, a tiritar, como num acesso de febre. Segunda alteração se verificara na cela... e agora a mudança era, evidentemente, na forma. Como antes, foi em vão que tentei, a princípio, perceber ou compreender o que ocorria. Mas não fui deixado em dúvida muito tempo. A vingança inquisitorial fora apressada pela minha dupla fuga a ela, e não havia mais meio de perder tempo com o Rei dos Terrores. O quarto fora quadrado. Eu notava que dois de seus ângulos de ferro eram agora agudos e dois, em consequência, obtusos. A terrível diferença velozmente aumentava, com um grave rugido, ou um gemido surdo. Em um instante o aposento trocara sua forma pela de um losango. Mas a alteração não parou aí nem eu esperei ou desejei que ela parasse. Eu poderia ter aplicado as paredes rubras ao meu peito, como um vestuário de eterna paz. "A morte!" — disse eu — "Qualquer morte, porém não a do poço!"

Louco! Não havia compreendido que o objetivo dos ferros ardentes era impelir-me para dentro do poço? Poderia eu resistir a seu fulgor? Ou, mesmo que o conseguisse, poderia suportar sua pressão? E então, mais e mais se achatou o losango, com uma rapidez que não me dava tempo para refletir. Seu centro e, naturalmente, sua maior largura, ficaram mesmo sobre o abismo escancarado. Fugi... mas as paredes, a apertar-se, impeliam-me irresistivelmente para diante. Afinal, para meu corpo queimado e torcido, não havia mais de uma polegada de solo firme, no soalho da prisão. Não lutei mais, a agonia de minha alma, porém, se exalou num grito alto, longo e final de desespero. Senti que oscilava sobre a borda... Desviei os olhos...

Houve um ruído discordante de vozes humanas! Houve um elevado toque, como o de muitas trombetas! Houve um rugido áspero, como o de mil trovões! Precipitadamente, recuaram as paredes em brasa. Um braço estendido agarrou o meu, quando eu caía, desfalecido, no abismo. Era o do General Lasalle. O exército francês entrara em Toledo. A Inquisição caíra nas mãos de seus inimigos.

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