Transgêneros: Cérebro vs. Corpo - O que a Ciência tem a dizer sobre o Gênero? | Fantástica Cultural

Artigo Transgêneros: Cérebro vs. Corpo - O que a Ciência tem a dizer sobre o Gênero?

Transgêneros: Cérebro vs. Corpo - O que a Ciência tem a dizer sobre o Gênero?

Redação ⋅ 12 jul. 2020
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Poucos estudos buscaram avaliar as diferenças entre os cérebros de transgêneros e cisgêneros, na busca pela origem desse fenômeno. Uma nova pesquisa, porém, acaba de lançar luz sobre o tema, desmentindo a tão repetida hipótese do construtivismo social.

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Apesar de existir um caloroso debate político e social relativo aos termos e frases usados para descrever o gênero de um indivíduo, pouco é conhecido sobre como a divergência entre sexo biológico (determinado pelos cromossomos sexuais) e gênero percebido emerge.

O termo transgênero descreve um indivíduo que sente pertencer ao sexo oposto ao seu sexo biológico, sendo esta sentimento contínuo e estável ao longo do tempo. O sexo biológico, como se sabe, é determinado pelos cromossomos sexuais no nascimento. Já o termo cisgênero descreve o sentimento de coerência entre o sexo biológico e o gênero percebido.

O não entendimento desses conceitos e o negacionismo relativo à existência de fatores biológicos determinantes do gênero têm fomentado distorcidos debates políticos e ideológicos. Em um recente estudo publicado na Nature Neuropsychopharmacology, pesquisadores trouxeram mais uma forte evidência Esses resultados indicam que existe uma base biológica para a transgeneridade. Isso ajuda a derrubar a ideia promovida de que as pessoas escolhem ou podem ser ensinadas a ser transgêneros (construtivismo social), algo sem evidência de suporte. reforçando que a transgeneridade é determinada por fatores biológicos.

Uma ideia frequentemente defendida é que, em indivíduos transgêneros, ocorre uma divergência entre o desenvolvimento do corpo (parte física) e a diferenciação sexual do cérebro (parte neuropsicológica). Evidência para isso vem de estudos em bebês do sexo feminino com hiperplasia congênita adrenal, os quais acabam desenvolvendo comportamentos masculinos ao interagir com brincadeiras diversas. Devido à circulação pré-natal de testosterona (fator hormonal-uterino), o cérebro de tais bebês com genes XX seria estruturalmente organizado como um cérebro masculino, enquanto o desenvolvimento do corpo é feminino.

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Apesar disso, poucos estudos buscaram avaliar as diferenças morfológicas entre os cérebros de transgêneros e os cérebros de cisgêneros. Evidências experimentais acumuladas revelaram que quando comparadas com homens cisgêneros, mulheres transgêneras (sexo biológico masculino, gênero percebido feminino) de fato mostravam alterações estruturais em áreas associadas com a percepção do corpo. Estruturas cerebrais que repetidamente mostravam alterações ao longo de múltiplos estudos eram o putâmen e a ínsula. No entanto, essas alterações observadas eram altamente heterogêneas e apenas reportadas por estudos investigando indivíduos trangêneros antes do tratamento hormonal.

Para aferir de forma mais acurada diferenças na estrutura cerebral entre cisgêneros e transgêneros, os pesquisadores no novo estudo resolveram aplicar um sistema de predição para o sexo biológico baseado em escaneamentos estruturais via imagem por ressonância magnética (IRM). Nesse sentido, eles primeiro treinaram o sistema com um amplo grupo amostral constituído de 1.753 participantes cisgêneros sem qualquer evidência de transtornos psiquiátricos prévios.

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Com o treinamento do sistema concluído, os pesquisadores aplicaram a ferramenta de predição em uma amostra de 26 mulheres transgêneras e a um grupo de controle constituído de 19 mulheres cisgêneras e 15 homens cisgêneros. As mulheres transgêneras incluídas estavam sob tratamento em uma clínica do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Münster, e 18 delas já haviam iniciado o tratamento hormonal. Antes do tratamento e da inclusão no estudo, todos os participantes foram cuidadosamente testados para anormalidades cromossômicas como síndrome de Klinefelter, e examinados para transtornos de personalidade e outras comorbidades psiquiátricas. Dados clínicos tanto para os indivíduos transgêneros quanto para os indivíduos cisgêneros foram gerados sob iguais condições, eliminando possíveis cofatores de classificação devido a variabilidades de escaneamento. Dados sobre orientação sexual, idade e volume cerebral total dos participantes também foram incluídos na análise.

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Quando o classificador de sexo biológico foi aplicado nas imagens de IRM das mulheres transgêneras, uma análise geral da estrutura cerebral das mulheres transgêneras pré- e pós-tratamento hormonal identificou diferenças significativas (putamên, insula e cérebro inteiro) em relação àquela encontrada tanto em homens cisgêneros quanto em mulheres cisgêneras. Nas mulheres transgêneras, a estrutura cerebral se aproximava de ambos (mulheres e homens cisgêneros). Ou seja, a estrutura cerebral das mulheres transgêneras não se alinhou nem com o sexo biológico (XY, macho) nem com o gênero percebido (feminino associado ao XX, fêmea).

Os resultados mostraram que os volumes da ínsula e do putâmen eram maiores em mulheres transgêneras pré-tratamento hormonal do que em mulheres cisgêneras, enquanto as mulheres transgêneras pós-tratamento hormonal expressavam menores volumes na ínsula direita comparado com mulheres cisgêneras. Em comparação com homens cisgêneros, as mulheres transgêneras pré-tratamento mostravam volumes maiores do putâmen, enquanto as mulheres transgêneras pós-tratamento hormonal expressavam menores volumes tanto da ínsula quanto do putâmen em relação aos homens cisgêneros. De fato, alterações no putâmen já tinham sido associadas com as mulheres transgêneras ao longo de múltiplos estudos e independente do estado de tratamento. Ainda é incerto como o tratamento hormonal altera essa estrutura nas mulheres transgêneras.

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Uma análise detalhada comparando as mulheres transgêneras pré- e pós-tratamento hormonal revelou um padrão menos pronunciado de alterações da estrutura cerebral no segundo caso quando comparado com as mulheres cisgêneras. Isso implica que o tratamento hormonal induz uma feminização extra da estrutura cerebral em mulheres transgêneras.

Esses resultados em conjunto fortemente indicam que existe, de fato, uma base biológica para a expressão da transgeneridade. Isso ajuda a derrubar mais uma vez a ideia promovida de que as pessoas escolhem ou podem ser ensinadas a ser transgêneros (suposto processo determinado por simples construtivismo social), algo sem evidência de suporte. O novo estudo se soma também a várias outras linhas de evidências da influência de fatores biológicos para a determinação do gênero dominante dentro do espectro expresso entre os cisgêneros e entre os transgêneros.

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Segundo os autores, isso dá ainda mais suporte à ideia de que o desenvolvimento da identidade de gênero está entrelaçado com o desenvolvimento da estrutura cerebral e com processos hormonais. Hormônios no ambiente intrauterino dirige o desenvolvimento da identidade de gênero, ao invés de processos de aprendizado social. A aparência física masculina é formada no primeiro trimestre de gravidez devido aos efeitos da testosterona, e o corpo feminino se desenvolve devido à falta de andrógenos nesse período. Enquanto a maturação dos órgãos reprodutivos é mais ou menos limitada ao primeiro trimestre, o desenvolvimento cerebral é contínuo ao longo de toda a gravidez. Influências hormonais após o primeiro trimestre não mudam o sexo biológico (determinado pelos cromossomos sexuais), mas a experiência de gênero e, portanto, pode ser responsável pela incoerência entre o sexo biológico e o sexo percebido. Esse papel hormonal no desenvolvimento uterino pode também explicar sua ação em certas áreas do cérebro mesmo na fase adulta.

Ainda segundo os autores, como a estrutura cerebral das mulheres transgêneras não mostrou se alinhar nem com aquela dos homens cisgêneros nem com aquela das mulheres cisgêneras, eles argumentaram que uma nova classificação de gênero fora do conceito binário dominante (feminino ou masculino) seria o mais apropriado para englobar os indivíduos transgêneros.

Fontes:
SA News
Nature

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